Recordações dolorosas (À memória da Tobby!)
À dias encontrei esta foto que me trouxe recordações não tão boas assim. Nela se vê eu com cerca de 5 anos de idade e uma cadelinha a que chamei Tobby. (Esta foto foi restaurada e pintada por mim, originalmente era a preto e branco). Foi o primeiro cachorro na minha vida. Dela recordo muitas coisas boas, - embora com tão tenra idade algumas delas se apagaram da memória -, mas também de muita desilusão. Foi a primeira vez que comecei a sofrer por amor aos animais e nunca mais parei. A saga da Tobby foi muito atribulada desde pequena. Era ainda bebé quando chegou à minha mão. Vim a saber mais tarde que pertencia a um vizinho dum tio meu. Ele roubou-a para me trazer como presente. (Esse tio gostava muito de mim). Nessa altura, os animais eram considerados como coisas - infelizmente ainda são hoje - e desde muito cedo foi acorrentada a uma casota. Lembro-me dela dormir comigo, mas também me lembro dela acorrentada. Muito de vez em quando ela era solta para tomar banho e secar ao sol, ocasião em que brincava muito comigo e eu com ela, mas logo voltava à corrente. O meus avós maternos, - com quem então vivia -, gostavam de animais, mas para eles um cão era para estar a uma casota, visão corrente nas gentes dessa época. E a Tobby por lá ficou. Não me recordo de quantos anos durou, - talvez seis ou sete julgo eu -, e um belo dia muito frio penso que de Dezembro, e como a minha avó não a tivesse ouvido ladrar, lá foi ver o que se passava, e ela estava enroscada na sua casota morta e já rígida. Foi um choque para mim, foi a primeira vez que lidei de perto com a morte. Depois havia que sepultá-la. Disse que gostava que ela ficasse no quintal, mas não quiseram. Foi para um campo que existia junto à casa onde nasci. Fui levá-la para lá com a minha mãe que também muito sofreu com a sua morte. Mas as forças para fazer um buraco eram poucas e ela acabou num pequeno buraco tapada com umas pedras. Lembro-me dum grupo de rapazes vir ver o que se passava e perceberem que era um cão. Depois de me vir embora com a minha mãe, não sei se foram retirá-la da sepultura onde a deixamos ou não. Sei que sempre fiquei com essa imagem guardada para toda a vida. Esse campo já não existe. Hoje está lá construída uma grande urbanização. Sempre que por lá passo, lembro-me da Tobby e tento escurtinar o local onde a deixei à muitos anos a trás entre os prédios e as ruas. Essa marca ficou para sempre. Foi o primeiro e último cão sepultado nessas condições. (Nunca mais tal voltou a acontecer. Nenhum teve mais uma casota). Muitos anos mais tarde, a Tobby foi sepultada em memória no jardim da casa onde moro junto dos seus irmãos e quatro patas que embelezaram a minha vida. Todos eles foram importantes e a todos agradeço o que me deram de amor e carinho. À dias lembrei-me muito da Tobby. Depois encontrei esta foto. Se calhar tudo está ligado. Está agora a fazer anos que partiu não sei quantos, talvez sessenta. Sempre ficou no meu coração como os outros. Lá onde estiveres que estejas em paz, Tobby! Estarás sempre no meu coração.
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