Feliz Natal
E eis-nos de novo chegados a mais um Natal. Época que devia ser de paz e introspeção, que afinal se torna numa euforia e numa correria às compras. O Natal espiritual foi substituído pelo Natal consumista. Todos o criticamos e todos o praticamos. A mesa cheia, os presentes, as luzes brilhantes, tudo serve nesta época para ofuscar um outro Natal, aquele do nosso semelhante que sofre, que está muitas vezes só, com frio e com fome, e que nós não nos queremos lembrar. Mas também o Natal de muitos animais abatidos em grande sofrimento para que na mesa opípara de alguns os seus despojos sejam servidos para servir a gula durante umas horas, mas também dos outros que sofrem sós, por vezes acorrentados, ao frio, à chuva, com fome, sem amor, e que nós queremos ignorar porque achamos que somos mais do que esses pobres seres. O Natal também da natureza devastada para que pedaços dela sirvam para abrilhantar a nossa casa por umas escassas semana. A luz plena substitui a luz trémula do Natal primordial. A celebração festiva a outra mais intimista duma família nuclear a receber o seu filho a receber o dom divino da vida. A euforia a substituir a contemplação. O material e efémero a ultrapassar o espiritual e eterno. O mistério da vida, porque é disso que se trata, substituído por coisas sem continuidade. Chegamos ao Natal sem dúvida nenhuma, mas quantos se questionam a qual Natal se estão a referir. Poucos se lembram que o Natal é a celebração duma família e regozijar-se com um nascimento. Porque isso não é o Natal que celebram, mas sim o outro, o da mesa farta, dos presentes, das luzes tremeluzentes. Chegados aqui só nos resta perceber que Natal afinal queremos, que Natal afinal celebramos. 'Natal é quando um homem quiser' grita o poeta. Mas a pergunta permanece, de que Natal estamos verdadeiramente a falar. Deixo-vos esta reflexão que poucos farão porque outros valores se interporão, mesmo assim atrevo-me aqui a deixá-la, talvez alguém pense sobre isto, e se alguém o fizer, já terei cumprido a minha parte. E como é costume nesta época, aproveito para saudar todos os meus amigos, mas também os outros que não o são; todos os que gostam de mim, mas também daqueles que não gosto tanto, todos os que estão perto, mas também dos outros já ausentes, porque todos são importantes para mim, todos me ajudaram a ser um pessoa melhor. Feliz Natal a todos.
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