Turma Formadores Certform 66

Thursday, August 04, 2022

Olha para que eu digo e não para o que eu faço...

"Olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço" parece ser o lema de mais um escândalo na Igreja Católica. Antes de continuar quero aqui fazer a minha declaração de interesses, sou católico e praticante (um eufemismo que julgo só existir entre os católicos). Mas voltemos ao tema. Os casos de abuso de menores dentro da Igreja Católica não devia incomodar ninguém dado o elevado número deles que faz com que o tema se banalize. Tudo bem resguardado no silêncio dos confessionários que só a política de abertura e confronto do papa Francisco - bem haja por isso - fez com que estes esqueletos saíssem do armário. (Talvez por isso e pela sua coragem o admiro tanto, talvez na proporção inversa do ódio que muitos lhe dedicam dentro da Cúria). Mas se tais casos já não nos deviam surpreender - infelizmente - o caso muda de figura quando são encobertos e até embrulhados em mentiras por figuras elevadas da hierarquia da Igreja como foi o caso do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Não é a figura do Cardeal que está em causa - pessoa que aliás não conheço - mas aceito os comentários dos que vieram a terreiro defendê-lo e que terão um conhecimento da pessoa bem maior do que o meu que é nenhum. Mas em tudo isto não posso esquecer quando foi criada a comissão para investigar estes casos, - que no início quase que não tinha casos -, o Cardeal Patriarca ter vindo às televisões dizer que "a comissão não tinha registado casos em Portugal porque simplesmente eles não existiam." Em breve a realidade viria a desmenti-lo e os casos foram surgindo uns atrás dos outros. Mas agora soubesse algo de inaudito. O Cardeal Patriarca teria sabido de pelos menos um caso, que ele abafou e nem sequer uma punição severa deu ao padre que o cometeu, muito menos uma denúncia às autoridades com seria a sua obrigação. E aqui é que está a questão maior. Quando D. Manuel Clemente veio à televisão dizer que não haviam casos em Portugal, já tinha conhecimento de pelo menos um que ele tinha silenciado. A atuação do Cardeal Patriarca não pode fugir à mais veemente censura, não só pelo encobrimento, mas depois pela mentira que atirou a todos nós. São atitudes destas que fazem com que a Igreja Católica se veja assolado por uma onda de deserções motivadas pela desconfiança que as populações lhe atribuem. A Igreja Católica sempre lidou mal com a sexualidade, fora e dentro da Instituição, e isso tem-lhe sido fatal. Não é metendo a cabeça na areia para não ver, ou a mentira serôdia para ludibriar, que ajudam a resolver esta situação. Depois deste escândalo o Cardeal patriarca emitiu um comunicado que difundiu para os órgãos de comunicação social. Pena foi que não tivesse vindo a terreiro, junto das televisões justificar esta situação duma forma tão apressado como veio negar o óbvio. Aqui lembro-me sempre do jargão popular "olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço". O sentimento popular costuma ser muito assertivo e agora voltou a sê-lo de novo.

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