A polémica em torno dos grandes investimentos
Temos assistido nos últimos tempos a um debate intenso, nem sempre sério, sobre os grandes investimentos para o país. Esta temática foi hoje abordada por um jornal, no qual se lia que os grandes investimentos estavam a dividir os economistas. Mas tentemos esclarecer um pouco a situação. Saiu um documento à alguns dias, que é do conhecimento público, onde vinte e oito economistas achavam que se deviam parar os grandes investimentos. Hoje mesmo, estão a ser preparados dois documentos em que outros economistas defendem a visão contrária. Dos primeiros existem alguns nomes conhecidos, embora isso não chegue para tornar o documento mais credível do que outro qualquer. Alguns desses economistas também tiveram as suas histórias nos tempos de maior visibilidade que nem todos nós esquecemos. Mas vamos ao que interessa. É sabido que nestes tempos conturbados de crise económica, todos tentam dar a sua opinião no sentido de debelar a malfadada crise. Até os neoliberais que passam o tempo a dizer que a economia devia ser regulada por si só, usando a tão famosa imagem da "mão invisível" de Adam Smith (já lá vai muito tempo!), agora vêm a todo o vapor pedir maior intervenção do Estado. Até na pátria do neoliberalismo, os EUA, (nunca tal se viu), e que levou o anterior presidente Bush a apresentar um plano no Congresso para levar o estado a intervir na economia (espantêmo-nos todos!), foi o famoso plano Paulson. No fundo, o Estado entrava para salvar os prevaricadores utilizando dinheiros públicos, que eram utilizados para comprar aquilo que já nada, ou pouco, valia. Mas os tempos são mais difíceis ainda, estamos mais perto da necessidade de aplicar medidas próximas do "new deal" que salvou a economia americana nos anos 30, do que os projectos neoliberais que levaram à economia de casino que deu no que deu. (Já agora, cumpre informar que o mentor desta política for John M. Keynes, economista inglês, e não norte-americano, como um conhecido político português, à dias, afirmava na televisão. É caso para dizer, se não conhecem Keynes devidamente, dificilmente conhecerão as suas propostas, mas em política é assim mesmo). Hoje, como nessa época, era importante ter políticos com outra dimensão, como foi o caso de Roosevelt, ou mais recentemente, como Willy Brandt, Olof Palme, Pietro Nenni, James Callaghan, apenas para citar alguns. Na minha opinião as grandes obras, os grandes investimentos, têm toda a acuidade. Dizem que isso não cria emprego, embora não seja de todo errado, não é bem assim, mas nem só de emprego vive a economia. É importante que não se esqueça o desenvolvimento do país, e aquilo que é o endividamento futuro não seja o papão usado por políticos menos sérios que, quando no governo, até assinaram tratados internacionais para os levar a cabo. Se perdermos esta oportunidade, ficaremos inevitavelmente para trás, como já aconteceu noutras épocas. Só como exemplo, é bom que se lembrem de que Portugal depois de ter assinado um acordo com Espanha para uma autoestrada que terminava em Badajoz do lado espanhol, esperou 10 anos(!) para que do lado português fosse concluída, enquanto nos entretínhamos em estudos e mais estudos que no fim de pouco serviram. Depois dizemos que a Espanha é muito evoluída e nós não saímos da cepa torta! Assistimos a políticos que hoje dizem uma coisa, enquanto governo, e outra, enquanto oposição. É isso que descridibiliza a política, exactamente porque temos um déficit de políticos que hoje mais parecem amanuensses, vazios de ideias e de estratégia, para não irmos mais longe. Sei do que falo, porque já por lá passei, e saí desiludido, prometendo a mim próprio que nunca mais aceitava qualquer cargo de serviço público. Mas, voltando ao tema, acho que as grandes obras são necessárias, caso contrário, ficaremos inevitavelmente para trás, cada vez mais. É preciso abraçar o princípio da modernização do país, o emprego virá por arrasto, o contrário, é que não, só defendido por mentes conservadoras (aqui sem conotação política, até porque existem pessoas a defender este princípio de diferentes quadrantes), que pensam duma forma egocêntrica, não vendo que para além deles e da geração que representam há mais mundo, há mais Portugal.
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