Uma reflexão sobre a corrupção
Neste mundo cada vez mais globalizado, vamos assistindo a um fenómeno que pulula por todo o lado, aparentemente sem controle, refiro-me à corrupção. Qual polvo, qual hidra de sete cabeças, a corrupção infiltra-se por todo o lado, mesmo naqueles que parece estarem acima de tudo isto. Não pensemos que é um fenómeno português, - pela grande mediatização que tem tido entre nós -, é um fenómeno mais abrangente a nível global. Ainda ontem assistimos às declarações do ministro dos negócios estrangeiros francês, Bernard Kochner, sobre as eleições no Afeganistão. Dizia ele que o presidente eleito, Hamid Karzai "é corrupto, mas é o nosso homem". (Penso que sobre esta questão o aconselhava a ler a 1ª carta de Inglaterra de Eça de Queiróz). Quando um estadista admite publicamente esta situação parece que já nada há a fazer. Quase que nos dá vontade de rir do Freeport, Face Oculta, BPN, e tantos outros. Vemos aqui a corrupção assumida ao mais alto nível, como uma estratégia de Estado. Mas também não admira, que na actual França, onde Sarkozy quer impor o seu filho, estudante do 2º ano de Direito (!), para liderar o império financeiro da La Défense, estamos perante a política do vale tudo. Quando vemos a corrupção que alastra no formal Japão, quando vemos os escândalos sucessivos em torno dos políticos israelistas, quando vemos os fleumáticos deputados ingleses a desviar dinheiros públicos para decorar os seus jardins, ou para comprar material pornográfico, acho que estamos no reino da impunidade. Isto para já não falar na América Latina, onde o tráfico de droga é moeda de troca, onde a própria polícia trafica, onde a vida de um homem vale muito menos do que uma dose de "cannabis", onde o "mensalão" brasileiro escandaliza o mundo, chegados aqui que mais há que esperar? Não pensemos que a corrupção é um fenómeno de hoje, ele sempre existiu desde o "homo sapiens", talvez não com a visibilidade que hoje, os "media" lhe dão. Embora, em bom rigor, alguns destes, também a ela não escapam. Talvez esteja na altura de (re)lermos de novo o nosso Eça de Queiroz ou o Ramalho Ortigão, que actuais são as suas análises à luz dos nossos dias. Longe vão os tempos dos grandes estadistas, como já por vezes afirmei neste espaço, onde apenas se vive o momento, para o momento e no momento. O amanhã é longínquo e logo se verá como actuar. A visão curta, o dinheiro fácil são cada vez mais uma tentação, numa sociedade que idolatrou o dinheiro, o estatuto social, a imagem quase sempre efémera, como os novos ídolos a que devemos orar. Diz o povo que "a ocasião faz o ladrão", talvez a sociedade tenha criado padrões e esteriótipos que levam a isto, sendo os simples mortais meros peões destes ditos novos valores. Onde vão os valores da honra, da lealdade, da transparência, da educação, da seriedade, da solidariedade em que muitos de nós fomos criados? Hoje são"demodé" coisas de "cotas" sem aderência à nova realidade. Por isso, acho que o combate à corrupção será sempre uma luta desigual, por cada caso denunciado, quantos ficarão na obscuridade, incentivando a que se continue. Afinal, o crime até parece compensar, sobretudo aqueles para quem os "valores" são já letra morta, palavras duma canção que já ninguém escuta. Isto não significa que nos conformemos, nem significa que cada um de nós é um corrupto, como por vezes parece indiciar algumas coisas que por aí se ouvem e vêem. E quem as profere será que está acima de qualquer suspeita? A corrupção corrói por todo o lado, até aos mais altos lugares dos Estados, onde o silêncio, a "ommerta" mafiosa, é a lei, onde as palavras e a prática são atitudes mutuamente exclusivas. Como diziam os mais antigos falando do clero, "olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço". Parece que no baú da História lá vamos encontrando o saber que tenta esclarecer o que hoje se vive. Saber popular, saber do povo, que na sua luta diária, vê atónito, o mundo se transformar numa imensa sala de espelhos, onde a realidade e a ficção, são difíceis de distinguir.
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