Equivocos da democracia portuguesa - 185
A balbúrdia continua. O caso das secretas está a provocar um embaraço ao governo quando existem assuntos tão sérios que deveriam ocupar a governação. Passos Coelho na semana passada, assumiu a defesa de Relvas, talvez duma maneira apressada. É certo que o governo não tem um ministro político a não ser Relvas, mas tudo tem o seu limite. Agora que se sabe que o directo-adjunto do Expresso, Ricardo Costa, também foi espiado, agora que se sabe que Relvas mentiu e nesta segunda ida à comissão de inquérito tentou corrigir a mão, agora que outras personalidades se acham no direito de sentirem que estão, ou podem ter sido, espiadas, o problema ganha um volume e uma gravidade enormes. Ontem, Marcelo Rebelo de Sousa no seu habitual comentário semanal, dizia que "o ministro deveria sair pelo seu pé, pois está a criar um engulho ao primeiro-ministro e um peso inaceitável sobre o governo". Mas parece que o ministro não está para aí virado, pelo menos é o que parece, o que significa que a novela vai continuar, enquanto o governo espera que passe e se esqueça o assunto. Mas mesmo aqui, Marcelo Rebelo de Sousa alerta "que isso terá um pesado preço político para o governo" até citando casos de anteriores governos que fizeram o mesmo com outros assuntos e que depois pagaram um elevado preço político. Já no programa da SIC Notícias, "Quadratura do Círculo", este assunto foi objecto de fortes ataques de todos os participantes, não sendo a menor duma figura destacada do PSD, Pacheco Pereira, que inclusivé diz que o PM deveria demitir Relvas depois de toda esta embrulhada ainda não totalmente esclarecida. Apesar desta novela, ela não foi suficiente para esconder mais um recorde deste governo, o nível assustador do desemprego que é uma verdadeira bomba-relógio social que poderá explodir a qualquer momento. Vítor Gaspar diz que em 2012 o desemprego atingirá os 15,5% e me 2013 os 16%! Afinal as medidas da "troika", bem como, a estratégia governamental que vai para além do memorando, estão paulatinamente a enterrar o país conforme vimos afirmando desde à já algum tempo. O ministro da economia - o tal de quem nunca nos lembramos do nome - vem dizer que se estão a preparar medidas para o combater, mas já ninguém o leva a sério, afinal anda a dizer isso desde que chegou ao governo e o resultado é este. O déficit segue na mesma esteira do desemprego. A manter-se o ritmo do 1º trimestre, este vai superar o acordado com a "troika" que era de 4,5% perspectivando-se que atinga os 7,5%. Com esta tendência, será quase impossível evitar um novo empréstimo que significará mais recessão, mais desemprego, ausência de crescimento. Em tudo o que já se viu na Grécia e que agora parece querer repetir-se entre nós. E a continuar esta estratégia, com a recessão a não dar sinais de abrandar, que será do nosso futuro na zona euro? Se a Grécia já está à beira da saída, - apesar das afirmações contrárias dos políticos europeus -, não será o nosso país o próximo? Com este emaranhado de balbúrdia no governo, fala-se agora em reduzir a TSU para tentar diminuir o desemprego jovem! Mas isso leva ao enfraquecimento da Segurança Social que tão carente anda de meios. Afinal o que se pretende? Será tudo isto uma estratégia, ou simplesmente a fuga em frente, quando já não se sabe o que fazer? No meio desta confusão, António Borges veio afirmar que era necessário diminuir os salários!!! Quando Portugal já tem dos mais baixos salários da UE que pretende António Borges? Claro que o governo, depois de questionado na AR, veio logo afirmar que não ia baixar os salários, mas quando muitos dos seus correligionários políticos vieram afirmar que ele estava a falar de mais, não deixa de ser preocupante o que de facto se está a cozinhar. E até Marcelo não passou ao lado da questão, acusando-o, também, de falar de mais mas acrescentando que "se ele afirmou isso, com certeza que dará o exemplo, e desde logo, irá baixar as suas remunerações". Mas quando se fala muito deste problema é porque alguma coisa está a ser preparada. Neste emeranhado de confusão em que Portugal se encontra, - mas também a Grécia que vê aproximar-se o momento de muitas decisões com as eleições à porta -, quando já se fala no possível resgate de Espanha, vemos que o edifício europeu continua a abrir brechas. E, aparentemente, ninguém parece fazer nada. O caso das "eurobonds" continua em banho-maria, quando deveriam ser implementadas rapidamente. Não se percebe a estratégia que empurra com a barriga o problema para a frente sem, contudo, o resolver. Será que alguma vez alguém terá coragem para romper com este ciclo de empobrecimento em que as políticas ultraliberais arrastaram a Europa numa espiral de recessão, desemprego e ausência de crescimento que de à muito não se vi-a nesta parte do globo? Mas temos o Euro 2012 à porta e com ele o abrandar da pressão mediática virada para a indústria do futebol, bem como, a pressão das populações, elas também alienadas pelo mesmo fenómeno. Será o período de tréguas para os políticos, dando espaço para estes implementarem o que bem entendam, sem que ninguém dê por isso. Para este políticos é caso para dizer "Viva o futebol!".
0 Comments:
Post a Comment
<< Home