Turma Formadores Certform 66

Monday, May 28, 2012

Equivocos da democracia portuguesa - 184

Mais uma semana fértil em mexericos, suspeições e muita falta de vergonha. O caso Miguel Relvas tem dominado as últimas duas semanas, com o ministro a ir à comissão parlamentar mentir descaradamente. Afinal não tinha nada a ver com Silva Carvalho, - afirmou-o inequivocamente - mas afinal tem! A demissão do seu assessor foi o sinal de alerta de que estava para vir por aí mais, e mais escabrosas, afirmações. E agora é revelado que Silva Carvalho conseguiu afastar a "chata" da Teresa Morais - aquela que só se sabe rir e arranjar o cabelo - da fiscalização das secretas, onde aparece no governo pela mão de... Miguel Relvas! Tal parece ser a resposta ao pedido de Silva Carvalho o mesmo que espiou, ou mandou espiar, empresários concorrentes da Ongoing como Pinto Balsemão quando já fazia parte desta. Neste emaranhado de confusões, neste pantanal em que se vai chafurdando, Marcelo Rebelo de Sousa não tem dúvidas, "ou Miguel Relvas sai ou tem que ser convidado a sair". Falta saber se o ministro foi vítima ou parte interessada como sugere o bastonário da Ordem dos Advogados, mas pelo que veio até agora a lume, não nos parece que seja fruto dum lapso para quem tem "tantos anos de política", como o próprio Miguel Relvas afirma. Para quem defendia mais lisura para a governação, parece que estamos bem longe disso. Afinal ao fim de dez meses do actual governo, não parece ter havido nenhum que não tenha sido envolvido em polémica ou em assuntos pouco claros. O pantanal continua, agora pela mão daqueles que o criticavam no passado. "Atrás de mim virá quem de mim bem dirá" (vox populli). Mas esta semana não deixa de ter uma marca insólita vinda, desde logo, de quem tem enormes responsabilidades e deveria ter mais cuidado com o que diz. Referimo-nos a Christine Lagarde com as infelizes afirmações sobre a Grécia. Lagarde não esconde que se quer ver livre da Grécia rapidamente, mas mesmo que pense isso, não o pode dizer publicamente. O efeito pode ser preverso relativamente àquilo que pretende. Mas uma directora-geral do FMI não pode ter estes lapsos, daí o pensarmos que não foi um lapso, mas sim, um sinal. O que a ser verdade ainda torna as coisas mais graves. A Grécia esta na UE de pleno direito e a sua saída pode levar a um efeito dominó, sobretudo sobre os países intervencionados, cujas proporções ainda não se conseguem prever. Exige-se aos responsáveis políticos algum decoro, coisa que não vemos de todo e, neste caso, nem de Portugal falamos. Lamentável a todos os títulos. Mas queríamos aqui trazer também, uma outra questão que nos tem preocupado nos últimos dias. Tal prende-se com o artigo de Rui Tavares com o título "A vingança do anarquista". Nesse artigo Rui Tavares ilustra o caso belga, dum país que tem crescido muito, que tem estado ao abrigo dos especuladores financeiros, mas, um país sem governo. A tese é de que a situação previligiada da Bélgica prende-se precisamente com isso, ... não ter governo. Daí conclui que o mal é da política - leia-se partidos - defendendo aqui e além alguma ideologia anarquista. Consideramos o caso belga, de facto, um verdadeiro "case study" de ciência política. Mas nada mais do que isso. Embora achemos que a política nacional e não só, está a mergulhar num autêntico pantanal, tal deve-se mais à falta de estadistas que têm dado o lugar a alguns que da política são meros funcionários de ocasião. Isto é visível em Portugal, mas extra fronteiras o mesmo sucede. E por isso, se achamos o artigo interessante, não deixamos de o achar perigoso. Rui Tavares que até é um parlamentar europeu, embora independente, sabe-o bem. (E já agora, é preciso não esquecer que Rui Tavares concorreu ao Parlamento Europeu integrado nas listas do Bloco de Esquerda, embora como independente. Mas teve que recorrer a um partido para se fazer eleger). Uma democracia só se faz com partidos e a ausência deles pode ser tudo, mas democracia não o é seguramente. Temos defendido por diversas vezes que, os actuais partidos não servem já os interesses nacionais, e temos ido mais longe, defendendo a implantação da terceira República, com forças que melhor se ajustem à nova realidade e aos anseios das populações. Achamos até que, mais cedo ou mais tarde, tal irá acontecer e talvez aí esteja o segredo para ultrapassar certas situações que agora achamos insolúveis. Mas não defendemos o fim dos partidos porque tal significaria o fim da democracia, sobretudo, da democracia como é entendida no ocidente. É certo que o pantanal em que vivemos, sem esperança ou glória, leva por vezes a raciocínios destes, quanto mais não seja para exorcizar os fantasmas que nos habitam. Mas temos que ter cuidado com o que afirmamos para que não vejamos o actual pantanal transformado em algo bem pior.

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