"Portugal e o Futuro" - António de Spínola
Trinta e oito anos após o 25 de Abril de 1974, acabei por (re)ler o livro de António de Spínola "Portugal e o Futuro" que desempenhou um papel importante no fim do regime anterior. O general António de Spínola publica o
livro "Portugal e o Futuro" no dia 22 de Fevereiro de 1974, pouco mais de um mês
depois ter sido empossado como vice-chefe do Estado-Maior General das Forças
Armadas por sugestão de Costa Gomes. Deste cargo viria a ser demitido em Março, por se ter recusado a participar na manifestação de apoio ao governo e à sua política. As páginas do livro abriram-se com estrondo e o próprio chefe do governo da
ditadura, Marcelo Caetano, disse tratar-se de um verdadeiro "manifesto de
oposição" ao regime e de um golpe militar anunciado. Na sequência da publicação do "Portugal e o Futuro", e perante a recusa dos
generais Francisco da Costa Gomes e António de Spínola - os dois principais
chefes militares do país - em prestar vassalagem a Marcelo Caetano, tanto
Spínola como Costa Gomes são demitidos a 14 de Março. Dois dias depois uma coluna militar do regimento das Caldas da Rainha avança
para Lisboa, numa tentativa falhada de derrubar o governo. A 25 de Abril os
capitães do Movimento das Forças Armadas levam a cabo o golpe militar que
liquidará o regime do Estado Novo e escolhem uma Junta de Salvação Nacional para
preparar a transição do país para um regime democrático. Na madrugada de 26
Spínola é anunciado como chefe da Junta e, a 15 de Maio, toma posse como
primeiro Presidente da República do pós-25 de Abril. A História avançara muito
rápido. O que fazia do livro de António de Spínola um tão poderoso repto ao regime do
Estado Novo? Basicamente afirmar que as guerras coloniais, que duravam desde
1961, não tinham solução militar. E que era necessário que a Nação debatesse o
problema. As teses de 'Portugal e o Futuro' eram também um desafio à política oficial:
"estamos numa encruzilhada" do problema ultramarino; "a contestação
generaliza-se a todos os sectores", até "à Igreja e à instituição militar";
"resta apenas uma via para a solução do conflito e essa é eminentemente
política, a vitória exclusivamente militar é inviável"; "a solução implica a
aceitação de princípios, o primeiro dos quais é o reconhecimento do direito dos
povos à autodeterminação". Escrito por um dos mais prestigiados generais das Forças Armadas, combatente em
Angola e comandante-chefe na Guiné, o livro teve o papel de uma bomba de
profundidade contra a política africana do regime. António Sebastião Ribeiro de Spínola nasceu a 11 de Abril de 1910, em Estremoz e faleceu em Lisboa a 13 de Agosto de 1996. O mais tarde marechal António de Spínola ficará para a nossa História como um símbolo de transição do regime. O importante papel que desempenhou é oficialmente reconhecido a 5 de Fevereiro de 1987, pelo então presidente da República Mário Soares, ao empossá-lo como chanceler das Antigas Ordens Militares, e ao entregar-lhe as insígnias da Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, pelos "feitos de heroísmo militar e cívico e por ter sido o símbolo da Revolução de Abril e o primeiro presidente da República após a ditadura". António de Spínola também foi muito controverso, durante o regime anterior como depois da implantação da democracia. Espírito rebelde e insubmisso nunca foi verdadeiramente catalogado dentro da geometria política vigente. Ainda hoje existem muitas diferentes opiniões sobre a sua personalidade e pelo livro que então publicou, bem como da sua influência nos acontecimentos que viriam a desaguar na Revolução dos Cravos. Mas de uma coisa estou certo, ninguém que se interesse por estas questões ficará indiferente à personagem e à sua obra, seja qual for o pensamento político que tenhamos. Um livro a (re)ler quanto mais não seja para sabermos o caminho que se propunha para Portugal e para as então províncias ultramarinas. Resta dizer que esta (re)edição é da Prefácio.
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