Equivocos da democracia portuguesa - 183
De confusão em confusão, de escândalo em escândalo, assim se vai fazendo a política em Portugal. Depois da confusão das secretas, - que afinal o são pouco -, até ao mais recente episódio que envolve Miguel Relvas num caso, que a comprovar-se, terá foros de escândalo e que não dará condições para o ministro se manter em funções depois da alegada ameaça sobre uma jornalista do Público, ameaça essa que parece ir até à devassa da sua vida privada - é caso para dizer que dá muito jeito ter amigos na secreta! - houve de tudo um pouco ao longo destes últimos dias. E com a política portuguesa mergulhada em escândalos e mexericos, poucos se aperceberam da mudança de estratégia do governo. Afinal quando a oposição falava em crescimento diziam que tal era uma irresponsabilidade e bastou a mudança política em França para que tudo mudasse. A Comissão Europeia não se cansa de demonstrar o seu apego às teses de Hollande - afinal foi este que deu novo folgo a Barroso, não nos esqueçamos - e muitos governos começaram a falar disso como se até aí nunca tivessem dado por nada. Com problemas profundos na Grécia, em Portugal e Irlanda, com o chegar da confusão à Espanha e à Itália, já para não falar na crise do governo holandês, motivada pela falta de estratégia de crescimento, foi-se criando terreno para que se mudasse de estratégia. A perda de força política de Merkel é evidente e, cremos que, nas próximas eleições para o ano, ela será afastada. Assim, e como não poderia deixar de ser, Passos Coelho que tem sido uma espécie de cordeiro para sacrifício nas mãos de Merkel, também achou por bem, colocar-se em bicos de pés e dizer que afinal o crescimento era fundamental e que com austeridade sobre austeridade não ia-mos lá. Coisa já fortemente discutida internamente mas que o governo achava que não seria assim. Temos a consciência de que Portugal é um país pequeno, com uma pequena e débil economia, um país periférico, o que em termos europeus nos dará pouca força. Daí que, sem virarmos as costas à Europa - não o podemos fazer, nem o devemos fazer - mas deveremos olhar mais para o Atlântico, política já conhecida e secular entre nós. Não temos condições para ser um país central, uma espécie de potência na Europa, mas podemos e devemos compensar esta nossa fragilidade com uma espécie de país rede fazendo a ligação da Europa a outras partes do mundo. E para isso, Portugal tem todas as condições, desde que assuma a centralidade da CPLP, transformando a sua fraqueza em força, sendo a ponte para novos países e desde logo novos mercados que serão de interesse para a Europa, sobretudo agora, quando esta está mergulhada na mais dura crise, - crise económica, crise de valores, crise política. E quando vemos chegar de novo a "troika" ao nosso país, esta ideia ganha mais força. Ontem Cavaco achava e bem que esperava que a "troika" trouxesse uma estratégia para fomentar o crescimento depois das decisões do G8 onde - as instituições da "troika" - estiveram presentes. Até Cavaco que noutros tempos achava tudo isto uma insensatez teve que mudar o discurso. Mas disso já falamos muitas vezes e não voltaremos ao tema. O importante é que Portugal crie âncoras para a sua estabilidade e desenvolvimento sobretudo num tempo em que não se sabe o que vai acontecer com a Grécia. Se esta sair da UE e do euro, Portugal será o elo mais fraco da cadeia e de duas uma, ou tem plataformas que lhe permite manter-se à tona de água, ou então, será o colapso com implicações que ainda hoje não sabemos mensurar. Daí, tal como no século XVI, a nossa vocação atlântica e a nossa aptidão pelo mar, seja a tábua de salvação dum país mergulhado numa crise profunda donde não sairá tão cedo, embora os políticos digam o contrário. Afinal, à cinco séculos descobrimos a nossa vocação marítima não só por aventura ou pelo mito da riqueza fácil, mas também, para fugir à miséria que então grassava em Portugal. Talvez tenha chegado o tempo, - um outro tempo, dum outro modo -, para regressarmos ao mar e à nossa vocação atlântica e assim, possamos ser um país bem mais interessante do que somos hoje em dia para a Europa a que pertencemos. Se a crise é sinónimo de oportunidade, porque não aproveitá-la para mudar de rumo em vez de nos deixarmos afundar dia a dia sem esperança e sem glória?
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