Turma Formadores Certform 66

Wednesday, January 22, 2014

À memória da minha avó 24 anos depois

Completam-se hoje - lá mais para o meio da tarde - 24 anos da morte da minha avó materna, Margarida de seu nome. Uma mulher simples do povo, detentora da instrução básica, mas com uma visão de futuro larga, nisso acompanhando o seu marido e meu avô, José. Eram meus padrinhos também. E minha avó nunca deixou de estar presente, nos momentos bons, mas sobretudo, nos momentos maus. As suas palavras de alento eram um bálsamo para quem a rodeava. Sempre corajosa e destemida, nunca deixava de dizer "para a frente é que é o caminho". Era a sua senha redentora e reparadora dos males que a vida, por vezes, nos causa. 24 anos depois aqui a recordo. Era uma tarde solarenga de Janeiro, estava a trabalhar, e no momento da notícia estava reunido no meu gabinete com um dos responsáveis da minha equipa e com um dos administradores. (Trabalhava então ligado ao Grupo Vista Alegre que ainda não era Atlantis). Parece que foi agora, e já 24 anos passaram, mas a notícia bateu de tal modo forte, que se gravou para sempre na minha memória. Porque a minha avó, tal como o meu avô, foram figuras tutelares na minha vida, na minha educação. Lembro-me bem de ainda menino ver a minha avó, em pleno Inverno, de manga curta. O frio parecia que lhe passava ao lado. Como não acreditava nestas "modernices" de máquinas de lavar, quase até ao fim dos seus dias, gostava de lavar a roupa à mão. Com chuva ou com sol, ela lá estava no seu posto, sempre alegre e prazenteira. Mulher doutros tempos, doutra geração ainda mais fustigada do que a nossa, nunca perdeu a sua força e coragem. Sobreviveu à dor imensa de ver morrer um filho de ainda tenra idade, mas colmatava isso com uma fé fervorosa. Não era beata de igreja. Até nem vi-a com bons olhos aquelas que o eram. Mas tinha a sua fé, forte e convicta, que foi transmitindo aos seus netos. Uma fé que não admitia recuos, mas que era um motor de alavancagem. Nunca esperava que a fé só por si, fizesse tudo. Ia à luta sem temor. Com quase 90 anos me deixou. E deixou um vazio enorme. Porque foi importante na  minha vida. Ensinou-me o quanto vale uma família. Ensinou-me a ter fé e coragem quando a adversidade bate à porta. Na sua singeleza, na sua pureza de mulher simples do povo, deu o que melhor tinha para que a minha vida fosse mais agradável do que aquela que o destino lhe reservou. Depois de ter estado um pouco doente e sem apetite durante uns dias, no seu último, saí para o emprego com a ideia de que ainda iria resistir mais algum tempo - afinal nunca queremos admitir que a morte está ali ao lado. De manhã nesse dia, já no trabalho, telefonei para casa e parecia que tudo estava bem. Tinha finalmente tomado um bom pequeno almoço como era seu hábito. À hora de almoço fui informado que tinha comido bem como já não fazia há muitos dias. Cerca de hora e meia depois deixava-me. Ela também driblou a morte mas acabou por ceder. Apenas a idade foi corroendo a sua saúde. Só essa foi capaz de a vencer. E já 24 anos passaram sobre esse acontecimento. No momento em que escrevo é ainda madrugada. Acordei com este pensamento. Daqui a um par de horas irei homenage-á-la ao jazigo de família em que se encontra. É um pedaço de mim que ali está. O que dela resta. Apenas uns ossos descarnados para lembrar o efémero da vida. Mas é a minha avó Margarida. Que estejas em paz, avó!

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