Turma Formadores Certform 66

Tuesday, January 07, 2014

Obrigado, Eusébio! - II

Embora, como já disse, na crónica anterior, não sou um adepto de futebol, contudo não pude deixar de ficar indiferente ao que se passou no funeral de Eusébio. Durante todo o dia de hoje, todos fomos assistindo a manifestações de enorme pesar, pautadas aqui e ali, por uma certa alegria, numa forma africana de encarar a morte, que já tinha visto a quando do falecimento de Nelson Mandela. Sabia da popularidade de Eusébio - afinal até é do meu tempo ainda quando ele encantava nos relvados -  mas nunca esperei ver aquilo que vi. Foram momentos tocantes, inesquecíveis, comoventes que, mesmo para um não adepto de futebol, marcou para sempre. Vi a estátua de Eusébio no estádio da Luz coberta de cascóis, tarjas, mensagens, objetos diversos, etc., que a cobriram na totalidade. Vi o Rei Eusébio coroado pelo povo anónimo que lhe quis assim prestar a última homenagem. Mas vi também, o que se passou em Old Trafford com um minuto de silêncio proporcionado pelo Manchester United que logo foi substituído por um aplauso unânime de pés de todos os espectadores; vi o que hoje se passou no Santiago Barnabéu, com a homenagem que o Real Madrid lhe proporcionou. Mas vi também a imprensa internacional falar (muito) de Eusébio. Vi a americana CNN a não deixar passar ao lado a figura mítica do rei do futebol, mas, e mais surpreendente ainda, via a Al-Jazeera, a cadeia árabe do Qatar, a também idolatrar o ídolo português. Vi jornais na China e no Japão com as primeiras páginas com fotos de Eusébio. E pensei para comigo, este homem que já abandonou o futebol à tantos anos, - a maioria das pessoas que falam dele hoje não têm sequer idade para o terem visto jogar -, como pode um homem assim ser tão globalizante? Que mística é esta que envolve o nome desta figura lendária dum país tão pequeno e pobre como Portugal? Será só o futebol? Ou será também a figura de um homem bom, amigo do seu amigo? Confesso que não sei. Se calhar nem é o mais importante nesta altura. O importante é que ele é um símbolo de Portugal no mundo. Ajudou a projetar o nome de Portugal no mundo numa altura em que até tínhamos vergonha de no estrangeiro dizermos que éramos portugueses. Agora, depois de morto, continua a projetar o nome de Portugal. Morto não, desaparecido porque os heróis não morrem apenas desaparecem e Eusébio foi um herói português. E quando ouvimos Assunção Esteves, num momento pungente, vir dizer que a transladação para o Panteão Nacional é muito cara, - e pelos vistos até errou nos custos que afirmou - vê-se que não percebe o que se passa à sua volta, e não entende o ridículo em que está a cair. Com certeza que Eusébio merece ir para o Panteão Nacional onde já está Amália. Eles foram, de facto, os verdadeiros embaixadores do nosso país até ao dia em que morreram, quiçá, até depois de terem desaparecido. Eusébio ir para o Panteão Nacional é a forma melhor de o povo - aquele povo que adora futebol, mas não só - também lá entrar. Sou de acordo que ele seja transladado para lá, afinal, fez mais por Portugal do que muita gente com ar grave e sério que apenas se aproveitou (a) para encher os bolsos. E ele, não o esquecemos, nunca enriqueceu. Nunca se vendeu por um punhado de moedas. Só por isso, já é um herói. O resto o povo já o disse ontem e hoje, duma forma clara, pungente, nestas grandes cerimónias que lhe foram feitas.

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