Turma Formadores Certform 66

Sunday, January 05, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 315

Fomos surpreendidos - ou talvez não - pelas declarações do ministro dos assuntos parlamentares - Luís Marques Guedes - sobre as medidas para substituir o chumbo anunciado do Tribunal Constitucional. E vai daí, mais um "cortezito" nas pensões e nos reformados para não variar. Afinal seguindo aquilo que sempre vem negando - ainda alguém acredita? - de que não sobe impostos. Porque o alargar a base de pensionista e aplicar-lhes uma taxa extraordinária não é, nada mais, nada menos, do que um imposto camuflado. Mas nem tudo são desgraças porque para além desta medida anunciada, ainda enriquecemos o nosso léxico com mais uma palavra "calibração". Temos que confessar que, gostemos ou não deste governo, ele em muito tem contribuído para a semântica desta língua lusa sempre em mutação. Já tivemos várias, até com significados diferentes e que achávamos não ser possível como foi o caso do famoso "irrevogável", mas nada mais errado, porque temos um governo que do verbo ainda nos leva a palma, pelo menos aos dez milhões de portugueses que somos, ou melhor, um pouco menos porque os outros já se foram embora. Mas para além deste lado mais caricato do executivo, não deixa de ser preocupante as medidas tomadas, que para além de substituir resultados que temos que apresentar à "troika" já se vai tornando claro que é uma agenda política desta gente. E porquê esta sanha sobre os funcionários públicos e sobre os reformados e pensionistas? Talvez porque o governo pense que do lado dos funcionários públicos não virão grandes votos, dos mais pobres também não, e que a classe média os irá acompanhar nesta caminhada, talvez iludido com o aumento do indicador da venda de automóveis. Mas ou estamos muito errados, ou o governo perceberá dentro de mais algum tempo que estava equivocado quando assim pensou, como errado tem andado com as medidas aplicadas que vão falhando umas atrás das outras e que reduziram Portugal ao nível da Albânia, não à Albânia de hoje, mas aquela outra do tempo de Enver Hoxha. Como dizia na sexta-feira passada, Silva Peneda, - um PSD não esqueçamos -, em entrevista ao Jornal de Negócios: "Tem sido demasiado sacrifício para tão pouco resultado". Esta é uma ideia que há muito faz carreira dentro até de pessoas da esfera dos partidos do governo, que não se revêm nesta liderança, nem nestas políticas, como é por exemplo o caso de Manuela Ferreira Leite. Citando o professor Pedro Lainz: "O PSD foi apanhado por extremistas", e são estes que vão alegremente desfazendo Portugal, vendendo-o a preço de saldo, destruindo o Estado social, de molde a que seja impossível voltar a trás. O caso da diminuição dos apoios à ADSE é evidente, tentando dar de barato à iniciativa privada, através dos seguros de saúde, aquilo que era a política social do Estado. Curiosamente um caminho inverso àquele que os EUA estão a seguir, embora contrariada pelos republicanos mais ultraliberais! Mas será provável que a mão pesada do governo vá aligeirando um pouco porque este ano é de eleições (europeias) e o próximo também o será (legislativas). Mas já nestas europeias que se aproximam, será importante que se dê um recado claro à Europa, porque esta situação também vem do seu seio com seguidores desta estratégia como é o caso de Durão Barroso. Se se conseguir eleger para este cargo o social-democrata alemão, Martin Schulz, - que já deu mostras de preferir outro caminho -, talvez aí comece a tão esperada redenção porque todos ansiamos. No entretanto, vamos assistindo a esta coisa extraordinária que é, não se ver o Estado ser capaz de fazer a sua verdadeira reforma que tão necessária é, reduzindo a despesa, mas sim, o aumentar os impostos duma maneira camuflada. Utilizará o governo o seu chavão habitual de que não existe outra solução. Mas isso é mais uma falácia. Existem outros caminhos só que saem da agenda política deste executivo, e como tal, não são aplicados. E o da austeridade pela austeridade não será um deles. Como afirma Mark Blyth: "A austeridade é uma ideia realmente muito perigosa", e até o consegue demonstrar com uma clareza cristalina.

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