Manuel Seabra - A memória que quero guardar
Fui ontem surpreendido pela notícia da morte do Dr. Manuel Seabra, atual deputado do PS e ex-autarca da C. M. de Matosinhos pelo mesmo partido. Não quero aqui falar do político mas sim do homem. Nunca conheci Manuel Seabra na intimidade embora ele morasse aqui bem perto do local onde habito. Apenas a vida quis que nos cruzasse-mos numa altura muito trágica para mim já lá vão 13 anos. E por isso, aqui estou a dar o meu testemunho. Não tecendo laudas ao político que era, porque isso outros farão, mas simplesmente para aqui dar testemunho de pequenos - talvez enormes - gestos que as pessoas não conhecem e que, normalmente, não enchem as páginas noticiosas. Há 13 anos atrás, e fruto dum problema criado à minha mãe por pessoas que viviam próximas, ela viu-se envolvida numa questão que motivou a intervenção da C. M. de Matosinhos. Tratava-se então da construção duma marquise que a minha mãe tinha construído e que, para alguns, não o poderia ter feito. (A razão mais profunda deste desaguisado prende-se com o construtor da mesma, um jovem que estava a iniciar a sua carreira por conta própria a quem a minha mãe queria ajudar, e que não era muito estimado pelas mesmas pessoas que despoletaram a situação). Tive conhecimento do que se estava a passar no dia 31 de Dezembro de 2000, curiosamente, 13 anos antes de Manuel Seabra falecer. Depois de muitas trapalhadas, com alguns episódios rocambolescos à mistura, acabei por levar o assunto junto da presidência de então. No entretanto, a saúde da minha mãe foi-se agudizando fruto desta questão, - e logo despoletada por pessoas com quem ela tinha bom relacionamento até essa altura -, e que haveria de ter um desfecho trágico. No início de Abril de 2001, consegui a tão esperada reunião com o vice-presidente, Manuel Seabra, na impossibilidade de a ter com o presidente que se encontrava ausente do país. Depois de lhe explicar o caso, ele dir-me-ia: "Não se preocupe com isso. Vá ao hospital Pedro Hispano que é aqui bem perto, e diga à sua mãe que não se preocupe com nada, que não vale a pena ficar doente com este assunto. Daqui a três dias passe por cá que já terei o documento assinado. E que ela recupere rapidamente". Ainda teve tempo de me dizer, dando alguns exemplos que já lhe tinham passado pelas mãos enquanto autarca, a sua visão das "gentes menores que viviam do mal alheio" - segundo a sua própria expressão - ensinando-me a distinguir aquelas que são dignas, das outras, segundo o seu critério apertado de decência. Depois desta conversa, fiz o que ele me disse. Mal saí da reunião telefonei à minha mulher que estava no hospital junto da minha mãe a dar a notícia. E depois fui para lá. A minha mãe ficou-lhe muito grata, nem Manuel Seabra soube quanto. Só que a notícia veio tarde, e a doença despoletada por este episódio, já tinha feito o seu percurso. A minha mãe viria a morrer pouco mais duma semana depois. Mas, pelo menos, ainda teve tempo de saber que tinha sido feita justiça. Fiquei sempre eternamente grato a Manuel Seabra. Nunca mais nos cruzamos. Mas este encontro marcou, definitivamente, a minha vida. Por isso aqui o trago porque julgo que é nestes momentos decisivos que devemos prestar homenagem àqueles que souberam estar verticais na vida. Não me interessa o partido, nem é por isso que aqui venho, apenas o gesto dum Homem digno - o H maiúsculo é bem merecido - que soube estar à altura das funções que então desempenhava. Daí, volvidos 13 anos, aqui estou a desejar que descanse em paz. Este episódio que calou bem fundo no meu coração servirá - assim espero - de testemunho nesta hora derradeira. Esta é a memória que quero guardar de Manuel Seabra, memória perante a qual me curvo respeitosamente. Fico eternamente grato. Descansa em paz, Manuel Seabra!
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