Boas Festas, amigos
Depois da minha pré-crónica de Natal - como eufemisticamente lhe chamei - que foi publicada há cerca de três semanas, julgo não haver muito mais a dizer. Mas é sempre de bom tom alinhar algumas palavras nesta altura a todos aqueles que me seguem neste e noutros espaços. Como vos disse então, o Natal para mim vale, sobretudo, pelos preparativos. Já era assim na minha feliz infância, embora depois na noite de Natal, ela atingisse o seu zénite com os famosos brinquedos que então, - nesses tempos já longínquos -, só por essa altura se recebiam. Mas à medida que fui crescendo e as responsabilidades foram substituindo a irresponsabilidade da meninice as coisas foram mudando. Apenas restou esse sabor maior do Natal a quando dos seus preparativos, dos enfeites que saem das suas caixas onde dormem durante um ano e que nos surgem em todo o seu esplendor. Depois vem o aproximar da data maior, e aí a angústia vai crescendo fruto de tempos menos bons por que passei. A memória dos meus ausentes também não ajuda. É para eles que vai sempre o pensamento por mais que não o queira, mas eu quero. Porque nessa altura eles estão ali, ao meu lado, como estiveram noutros tempos, enchendo-me de momentos de felicidade que guardarei até ao fim dos meus dias. E nesta altura, também o pensamento vai para os meus semelhantes que não conseguem ter aquilo que eu tenho, como também vai para os animais sofredores e de que poucos (muito poucos) se lembram nesta época, como não pode deixar de ir de igual modo para a natureza envolvente que não respeitamos. (E muitos pensam que respeitá-la é amputar árvores que servem para ostentar enfeites que passada a época são destruídos. Tradição introduzida por D. Fernando de Saxo-Coburgo-Gotha que era de origem austríaca e que foi marido da nossa rainha D. Isabel II, e que trouxe essa moda que é natural dos países do Norte). Mas estas três vertentes são recorrentes no meu discurso, correndo até o risco de se tornarem enfadonhas, mas são três pilares que julgo serem importantes para a definição dum bom caráter. Fui assim educado e, seguramente, que já é tarde - muito tarde mesmo - para mudar. Nos dias que correm as coisas vão tendo outro sabor e vão amenizando as agruras que as memórias, por vezes, nos reservam. Depois da entrada da minha afilhada Inês na minha vida, é para ela que celebro o Natal. Tento fazer o melhor imitando - com as devidas distâncias - aquilo que outros fizeram comigo quando tinha a idade dela e depois nos anos subsequentes. Ela é a razão da minha vida, ela é a minha epifania, ela é para mim o símbolo do Natal. Pela sua pequenez, pela sua fragilidade, pelo seu deslumbramento de tudo o que vê de novo, faz-me lembrar esses mesmos sentimentos que tive então. E só por isso, o Natal já vale a pena! Não são os prazeres da mesa que me motivam, nem as prendas - cada vez mais simbólicas - que me fazem correr. A Inês é, de facto, o centro, o meu "leit-motiv", o motivo maior do meu Natal, do meu (triste) Natal, como o apouquei há umas semanas atrás. E é dela que se irradia esse brilho, essa luz, esse calor que faz com que a palavra "triste" tenha que ser forçosamente retirada, porque seria injusto para ela, ser tão pequenino e tão frágil. Ela que transporta em si toda a alegria do mundo, ela que encerra em si todas as expectativas que tenho. Daí o Natal valer a pena porque uma criança tem sempre esse dom - que nós adultos já esquecemos - de transformar a tristeza em alegria, esbater sofrimentos, irradiar amor. Aquele amor que se celebra nesta quadra e que muitas vezes esquecemos face a uma mesa farta que elimina aquilo que de mais profundo e espiritual transportamos. Não enxergamos para além do imediato, a que só a inocência duma criança é capaz de pôr ordem. Assim, é com este espírito que caminho em direção ao meu Natal. E é com este espírito que vos desejo a todos, aos amigos e também àqueles de quem não gosto tanto e/ou que também não gostam de mim, umas Boas Festas. Não por ser Natal, mas porque deve ser assim. A nobreza do perdão, não a ignomínia do esquecimento; a mão que se estende não para esmagar, mas para ajudar o outro caído a reerguer-se. Como diz o poeta "Natal é quando um homem quiser". Como já disse na outra crónica, por vezes não queremos Natal, por vezes queremos mas não acontece Natal. Mas quem tem uma criança já conquistou o mundo. O seguir o caminho guiado por uma mão pequenina, que encerra a inocência e a pureza, só por si, já é o milagre do Natal. O Natal na sua forma mais pura e cândida. Feliz Natal para todos.
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