Turma Formadores Certform 66

Wednesday, December 18, 2013

Equivocos da democracia portuguesa - 310

Mario Draghi - o ultraliberal que Merkel impôs ao BCE - lá deixou escapar que Portugal precisa de algo mais no fim do programa da 'troika' "só não se sabe o quê". Seja programa cautelar ou outra coisa qualquer, com este ou outro nome, mas seguramente com a mesma finalidade. Afinal, o que o governo dizia de "nem mais tempo, nem mais dinheiro" esboroou-se, como vem acontecendo a tudo o que o executivo se tem proposto "adivinhar". Depois de ter feito a substituição de dívida, para com isso ter obtido mais tempo, afinal agora, parece que pode necessitar de mais dinheiro, com um programa que ficará para além da saída da "troika". Porque se um programa cautelar - se for esse o caso - pode funcionar como um seguro, isso também significa que, caso os ditos mercados não olhem com bons olhos para este pedaço de território no extremo oeste da Europa, terá que ir à Europa, através desse fundo, buscar mais dinheiro, isto é, o dinheiro de que precisa e que ninguém esteve disposto a emprestar. Isto quer dizer que, depois de ter reduzido o país à miséria, vendendo parte do seu património ao desbarato, o executivo tem para oferecer uma mão cheia de nada. E logo em época natalícia! Mas isto não nos surpreende. Já aqui vimos alertando há muito tempo para o enviesamento da economia portuguesa e que assim  não sairemos desta situação tão rápido como gostaríamos. Desde logo porque estamos a assistir à criação de pequenos negócios que as pessoas vão construindo com vista a fazer face às dificuldades da vida, mas essas micro empresas não potenciarão emprego, nem serão motivo para alavancar a economia. Se como dissemos à tempos, o setor primário não será motor da economia, este também não o será. Daí a debilidade da economia portuguesa. Esta só crescerá e criará emprego se o efeito de crescimento atingir os 2%. Só a partir deste patamar é que podemos, de facto, dizer que a economia está a recuperar. E o emprego, ou melhor, a falta dele é desde logo consequência disto mesmo. E se este está a diminuir isso é fruto não do crescimento económico como o governo pretende insinuar, mas sim, do elevado número de pessoas que saem do país em busca de uma oportunidade - cerca de 10 mil/mês! - que somadas àquelas pessoas que já desistiram de o procurar, potencia um ratio que o governo deveria ter vergonha de ter e não embandeirar em arco com a "recuperação" de umas décimas fruto do que atrás já afirmamos. A austeridade do "custe o que custar" foi a isto que conduziu do mesmo modo que pelos restantes países de economias mais débeis tem acontecido. "Os poucos casos positivos que conseguimos encontrar explicam-se facilmente pelas desvalorizações da moeda e pelos pactos flexíveis com sindicatos" afirma Mark Blyth, in "Austeridade" pág. 337. E por cá é isso que vemos. A moeda não pode ser desvalorizada porque não temos moeda nacional, quanto aos pactos mais flexíveis com os sindicatos parece coisa de difícil monta. Porque o problema não está nas pessoas nem nas economias. O problema está desde a primeira hora no sistema bancário que foi quem criou esta crise. A estratégia seguida foi uma espécie de retorno ao padrão-ouro com as dificuldades já conhecidas de outros tempos de o fazer funcionar em democracia. Se olharmos com atenção para o sistema bancário, vemos que ele está em queda, que o crédito será cada vez mais seletivo, que os encargos daí recorrentes serão cada vez mais elevados. E se, de facto, os bancos não recuperarem de tudo isto duma forma evidente? Se isso se vier a verificar, significa que o dinheiro de todos nós investido na sua salvaguarda foi deitado fora. Antecipando o que John Quiggin escreveu no seu livro "Zombie Economics",  talvez tenhamos resistido à austeridade para trazer de volta os moribundos. Mas o mais grave é que isso foi feito com o dinheiro público que foi desviado da saúde, do ensino, enfim, do estado dito social, para salvar estas instituições, retirando-o desde logo da economia e condenando esta à estagnação e ao empobrecimento. Mais uma vez recorremos ao extraordinário livro de Mark Blyth "Austeridade" onde se lê: "Se os feitores da política económica europeia, tal como os médicos, tivessem de jurar 'não fazer mal', seriam todos proibidos de 'praticar' economia", in "Austeridade", pág. 338. Como vemos, estamos a viver uma política de vendedores de ilusões que nos dizem uma coisa e fazem o seu contrário. Só que o problema é muito mais vasto do que o que nos consome em Portugal. A Europa está com o mesmo problema embora ainda dê ares de que não. Com o tempo estamos convencido que a verdade virá ao de cima. E nessa altura será o tempo de dizer "bem vindos à realidade"!

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