Equivocos da democracia portuguesa - 309
Mais uma semana se cumpriu, as mesmas agruras de sempre. Um Natal que se aproxima e que os portugueses celebrarão com aperto. As dúvidas do TC que em breve serão esclarecidas a ver se teremos ainda mais austeridade. Uma coisa temos como certa, o Tratado Europeu amarra-nos muito para além de 2030. E não basta o "relógio" que Portas ontem inaugurou para a contagem decrescente da saída da "troika". Porque o problema vai muito para além dela. Ainda antes de Portugal, a Grécia ou a Irlanda terem pedido um resgate externo o problema já existia. De origem bancária é esta crise porque foi daí que tudo veio. "Em Viena, em 2009, e muito antes de qualquer resgate grego ou irlandês, foi assinado um acordo entre os bancos ocidentais e a 'troika' (UE-FMI-BCE) e a Roménia, a Hungria e a Lituânia que obrigava os bancos da Europa Ocidental a manter os seus fundos nos seus bancos da Europa de Leste se os governos se comprometessem com a austeridade para estabilizar os balanços dos bancos locais". Esta iniciativa foi desencadeada por cartas enviadas à CE por vários bancos da Europa Ocidental que tinham forte exposição na Europa de Leste. (Sobre este tema aconselhamos a leitura de "Foreign Banks and the Vienna Initiative: Turning Sinners into Saints" de R. de Haas, Y. Korniyenko, E. Loukoianova e A. Pivovarsky. Este foi um documento de trabalho do BERD nº 143, Londres 2012). Porque quando se diz que os problemas dos novos países saídos da desagregação da ex-União Soviética, - os chamados REBELL -, davam o exemplo aos novos países em dificuldades do sul da Europa, tal não corresponde à verdade. A austeridade foi matando as economias, o emprego, a procura interna. "Quando os líderes mundiais, ávidos de legitimar os danos que já causaram à vida de milhões dos seus concidadãos, vão buscar exemplos como estes para justificar os seus atos, aplaudindo esses países - REBELL (Roménia, Estónia, Bulgária, Letónia e Lituânia - por criarem miséria, isso mostra acima de tudo uma coisa: a austeridade continua a ser uma ideologia imune aos factos e à refutação empírica básica. É por isso que continua a ser, à parte de todas as provas que possamos juntar contra ela, uma ideia muito perigosa" - Mark Blyth in "Austeridade", pág, 333. Porque se quer passar a ideia de que tem que ser assim e que não pode ser doutra maneira. Nada de mais errado. Senão, perguntemos aos países do norte da Europa se estão disponíveis para sacrificar um pouco do seu poderio económico para ajudar os países do sul - os PIIGS? E a resposta é óbvia, não! Porque a austeridade é um pressuposto ideológico e não a panaceia para todos os males. Depois de tudo isto, com ou sem relógio, apenas ficaremos mais pobres, muito mais pobres. Com uma economia destroçada. Com uma dívida impagável e que não pára de crescer. Há dois anos e meio a dívida era de 95% do PIB aproximadamente, hoje é mais do que 127%! O desemprego atingiu valores históricos! E ainda nos falam de "milagre económico"! Os países do sul terão muita dificuldade em sair do nível em que estão, não porque não queiram, mas simplesmente porque este não é o problema desses países mas duma economia globalizada a que a Europa não soube encontrar soluções. A saída da "troika" será importante, mas não deixemos de pensar que os problemas ficarão por cá. Porque a sua essência é bem profunda a que a carga ideológica ainda aprofundou mais.
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