À memória de um grande Homem
Hoje faria 110 anos caso fosse vivo. Um grande Homem! Não em estatura, mas grande de coração. Os grandes homens não se medem com fita métrica, mas avaliam-se pelo seu carácter. Teve os seus altos e baixos na vida. Começou por jardineiro, (aqui fica uma foto que o recorda assim a tratar das suas muitas e belas flores), numa altura em que só os muitos ricos iam estudar, mas nunca perdeu uma visão aguçado do futuro. Terminou a vida como empregado bancário num banco inglês importante. Sofreu as agruras da vida, com o desemprego, - e nessa altura não se sabia o que era o estado social -, com a morte prematura de dois filhos. Um ainda bebé, o outro poucos anos antes de ele mesmo falecer (e depois de ter enterrado a sua mulher, companheira de mais de 60 anos) - já desapareceu à mais de duas décadas - apenas ficando uma filha - a minha mãe - que também já desapareceu. E que dor imensa será quando um pai vai enterrar um filho! Adorava os seus netos e quanto a mim, sempre esteve por perto na minha educação. Já o tinha feito com o filho que foi estudar num tempo em que poucos o faziam. Depois comigo, ajudou-me muito. Colocou-me nas melhores escolas públicas e privadas. Escolas de referência onde se apruma o carácter para além da exigência do ensino. Ele buscava a excelência e eu tudo fiz para não o desiludir. Mas os grandes homens não ficam parados e ele não foi exceção. Ajudou muito os jovens que com ele se cruzavam, ensinava-lhes as primeiras letras, a ler e a contar. Afinal era o básico porque os seus conhecimentos não iam mais além. Mas ficava contente por ver os mais jovens evoluírem. Nunca o fez a troco de nada para ele seria um sacrilégio. Nunca deixou de dar um conselho amigo a outros, embora menos jovens, que por vezes, andavam desviados daquilo que ele considerava ser o caminho correto. Sem admoestações, sem paternalismos. Apenas e só como um amigo. E que amigo ele era! Ainda hoje há muita gente que o recorda, e que me fala disso mesmo. Pessoas que eram crianças e que ele ajudou a crescer, outros que já eram homens em idade e que ele ajudou a serem verdadeiros homens em caráter. Este Homem de grande estatura moral, superior até, era o meu avô materno. José como eu! Afinal para além de avô era também meu padrinho. A ele devo a minha educação, a minha formação de caráter, a minha visão do mundo, a que depois dei o meu toque pessoal. Mas as bases lá estavam. Os alicerces firmes já haviam sido lançados há muito por ele mesmo. Hoje era o seu dia! Hoje é o meu dia! O dia de venerar a sua memória. A memória dum Homem vertical, por vezes, duro, mas sempre disposto a ajudar a troco de nada. Na vida ajudou muitos. Nem todos lhe retribuíram essa ajuda. Mas aos grandes homens isso pouco importa. Talvez até os engrandeçam pelo desprendimento das coisas comezinhas, das coisas menores. Ele não perdia tempo com tais questões porque via longe. Olhava para o infinito. Tinha uma obra a concluir. O seu legado. E eu fazia parte do seu legado. Por isso, é minha obrigação venerá-lo neste dia. Curvar-me à sua memória. Hoje, passados todos estes anos, tento ir passando aos poucos esses valores à minha afilhada. Os valores do respeito pelo outro, o amor aos animais, a veneração da natureza. Ela ainda é muito pequenina apenas tem dois anos. Muita coisa ainda não entende apesar da sua sagacidade. Espero ainda ter tempo de a ajudar a formar o seu carácter. Afinal, tentar fazer aquilo que o meu avô e meu padrinho fez comigo. Será uma maneira de o homenagear também e perpetuar a sua memória. Foi com ele que tudo começou. Ele passou-me o testemunho, é tempo de eu ajudar outros e passar o testemunho a esses numa espiral de aperfeiçoamento do ser humano. Hoje seria o dia de aniversário desse grande Homem. Neste momento já tem um lugar destacado na minha galeria de ausentes. Descansa em paz, avô José! A tua memória perdurará enquanto eu existir. E que estejas bem lá onde estiveres pelo bem que espalhaste em teu redor e de que eu aqui dou testemunho. Hoje é o dia dum grande Homem! O meu avô, José!
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