"Austeridade - A História de uma Ideia Perigosa" - Mark Blyth
Hoje em dia, tanto na Europa como nos Estados Unidos defendem-se políticas de austeridade duras e radicais a fim de salvar a economia, como se os culpados fossem os contribuintes. E para a solução da crise financeira implementam-se políticas draconianas de corte na despesa pública como uma espécie de castigo sobre os cidadãos, acusados de terem vivido acima das suas possibilidades - e que agora terão de "apertar o cinto". Esta visão esquece - muito convenientemente - a origem do endividamento, que não foi apenas a orgia despesista do Estado mas, sim, o resultado direto do resgate e da recapitalização do sistema bancário. Através destas operações, a dívida privada passou a ser dívida pública e, enquanto os verdadeiros responsáveis deste processo saem impunes, o Estado empobrece e os contribuintes carregam - como uma penitência imposta pelos poderosos - o fardo do aumento de impostos, do desemprego, da perda de direitos sociais e de mais endividamento gerado pelas políticas seguidas. Estaremos dispostos a pagar o custo da austeridade? Para o economista e professor Mark Blyth, autor deste livro, a viragem global para as políticas de austeridade é uma ideia muito perigosa. Em primeiro lugar, não funciona. Como os últimos quatro anos e os exemplos históricos do último século o demonstram, a tentativa do Estado em conter a despesa, barrando os caminhos do crescimento, até pode ter algum resultado prático, mas nunca quando todos os países o praticam em simultâneo - isso só leva à recessão global. Em segundo lugar, pedir aos inocentes (os cidadãos, os contribuintes) que paguem pelos erros dos culpados (os Estados, os grandes bancos) é sempre má política. Em terceiro lugar, a receita da austeridade apenas enriquece os ricos, não traz prosperidade para todos, contraria o princípio da igualdade de oportunidades e só leva à pobreza e à desigualdade social. Mark Blyth nasceu em Dundee, na Escócia. Doutorou-se em Ciência Política, nos EUA, na Universidade de Columbia (NY), em 1999, e ensinou na Universidade John Hopkins até 2009. Atualmente é professor de Economia Política no departamento de Ciência Política da Universidade Brown, em Providence, EUA. Entre outras obras e muitos artigos científicos dedicados às relações internacionais e globalização, Mark Blyth é também autor do aclamado "Great Transformations: Economic Ideas and Institutional Change in the Twentieth Century". Este é um livro pleno de atualidade que merece uma leitura atenta e cuidada. A austeridade não é a única e inevitável saída como nos querem fazer crer. Este livro desmistifica a questão e torna a austeridade, de facto, "numa ideia muito perigosa". Como diz o autor, "transformámos a política da dívida numa moralidade que desviou a culpa dos bancos para o Estado. A austeridade é a penitência - a dor virtuosa após a festa imoral -, mas não vai ser uma dieta de dor que todos partilharemos. Poucos de nós são convidados para a festa, mas pedem-nos a todos que paguemos a conta". Este é o livro absolutamente definitivo sobre o assunto. Ninguém lhe pode ficar indiferente. Imperdível. Resta dizer que a edição é da Quetzal.
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