Equivocos da democracia portuguesa - 317
“No caso de Portugal e da Grécia, acredito que se o PEC tivesse sido aplicado muito rigorosamente teríamos evitado muitos problemas, muitos problemas, não digo todos os problemas”, afirmou Jean-Claude Trichet, (ex-presidente do Banco Central Europeu) perante a comissão do Parlamento Europeu que está a investigar a ação da “troika” nos países resgatados. Helás! Parece que afinal a luz está cada vez mais intensa ao fundo do túnel. Não a luz que nos dá o direito de sairmos desta embrulhada em que nos encontramos, mas a outra, a luz que torna mais claro o embuste que rodeou a não aprovação do PEC IV por uma maioria contranatura na Assembleia da República. Já por diversas vezes vimos falando neste tema, que para muitos teria alguma conotação política com situações do nosso recente percurso histórico. Mas não, muito se tem falado disto embora nem sempre nos fóruns públicos. Será que ainda alguém não percebeu o insólito da maioria contranatura que o inviabilizou, sobretudo, depois da aprovação da União Europeia e da bênção de Merkel? Agora com esta afirmação de Jean-Claude Trichet o pano começa a erguer-se e a máscara começa a cair. Afinal, quando Passos Coelho esperava perante os empurrões dos seus sequazes e afirmava que "ainda não era tempo de ir ao pote!" lá teria a sua razão. O interesse era bem mais abrangente. Era a coberto da "troika" que se iria implementar uma agenda ultraliberal de destruição do Estado Social, da escola pública, Serviço Nacional de Saúde, enfim, e numa palavra, privatizar o Estado, vender o que restava a retalho e saldar Portugal. Maria Luís Albuquerque, há dias afirmava que, a presença da "troika" foi importante e uma oportunidade - citamos de cor - e, de facto, assim foi. A coberto da "troika" implementou-se uma agenda política terrível que servirá apenas interesses ainda não revelados - a seu tempo eles aparecerão à luz do dia - e não para salvar Portugal. A crise de Junho que Paulo Portas fez estalar, dá bem a ideia da sua dimensão. Depois de nesse verão quente ter, com a sua atitude, elevado os tremendos custos sobre o nosso país depois o "irrevogável" acabou por ficar. Ele que tanto se preocupa com os mercados não se importou de criar uma das maiores crises políticas e com mais custos para o país desde que vivemos em democracia. E porque será que o "irrevogável" ministro deixou de o ser? Apenas para ter mais poder na coligação? Claro que não, embora isso viesse dar jeito. Mas talvez um acordo para o lugar tão desejado e apetecido de se vir a tornar comissário europeu. Daí que o partido dos pobres, dos contribuintes, dos agricultores e sabe-se de lá mais o quê, se ter vendido por um prato de lentilhas, valiosas sem dúvida, mas lentilhas! E enquanto a agenda ultraliberal, qual rolo compressor sobre os portugueses continua a atuar, Paulo Portas e seus sequazes olham para o lado como se nada disso tivesse a ver com eles. E depois, aparecem umas co-adoções e adoções para distrair lançadas por juventudes com muito acne e pouca inteligência, lá vão aparecendo outras juventudes que querem a diminuição da escolaridade obrigatória porque com gente menos culta tudo fica mais facilitado - onde é que já vimos isto? - e, com muito futebol à mistura que o povo gosta e enquanto olham para o Cristiano Ronaldo não se lembram de mais nada. (Nada melhor do que a seguir a uma Bola de Ouro, uma condecoração para manter viva a chama!) Vai daí, as emissões televisivas são esmagadoras, os pais olham para os seus filhos a ver se por lá vislumbram um outro Ronaldo, as mulheres sonham com ele nas suas camas, os homens alimentam o seu ego com os seus pontapés. E no entanto, o mundo lá fora continua a girar! A saída da "troika" é próxima do início do Mundial de futebol. E se Portugal for longe na competição, tanto melhor para o executivo, porque o zé povinho o que quer é bola e o resto logo se vê. A encenação já começou a ser montada para o maior espetáculo de alienação dum povo. A possível convergência dos partidos do governo para as eleições europeias é um sinal claro. Lembrem-se das palavras de Trichet. Se tivesse sido aprovado o PEC IV hoje não estaríamos aqui. Não tínhamos chegado aonde chegamos. É caso para dizer que quem chamou a "troika" não foi o governo anterior, mas sim este e a restante oposição. Esta última, meteu o pé na argola mas só agora deu por isso. A menos que se tenham lembrado das teses do empoeirado livro vermelho de Mao-Tsé Tung, o tal de dar um passo atrás, para depois dar dois à frente. Só que atrás, já demos muitos passos. Para a frente ainda não demos nenhum, por mais "milagres" económicos ou outros que nos queiram vender. Apetece-nos dizer que até a alma já não nos deixam ter. Até esta já nos roubaram.
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