Turma Formadores Certform 66

Monday, March 31, 2014

Equivocos da democracia portuguesa - 331

Aos poucos o véu diáfano da difamação vai-se levantando. Aos poucos. Devagar, devagarinho. Agora coube a Durão Barroso o tornar mais visível aquilo que se passou nos últimos dois meses da governação anterior. Foi na entrevista que deu ao Expresso na semana passada. Disse Durão Barroso que José Sócrates muito lutou para que Portugal não tivesse que pedir o regaste internacional. A quando do PEC IV, afirmou o ainda presidente da Comissão Europeia, que estava de acordo com ele e que até lhe tinha dado o seu apoio. Teria até, segundo Durão Barroso, intercedido junto do PSD para que o aprovasse e que Portugal não tivesse entrado na senda do resgate externo em que veio a cair. Merkel já o tinha aprovado. Tudo estava no bom trilho mas, havia Passos Coelho, o tal que "queria ir ao pote" cuja ambição desmedida era maior do que qualquer diálogo, quando se apercebeu de que estavam criadas as condições para implementar a sua agenda ideológica. Uma agenda ultraliberal que era um velho sonho da direita e que está a dar nisto que todos nós conhecemos. O empobrecimento generalizado, a destruição de muitos dos benefícios que a democracia trouxe às populações, num desemprego incontrolável,- apenas remediado pelo efeito da emigração -,  numa dívida que não para de crescer. Este é o quadro ultraliberal que já tinha sido experimentado na América Latina nos anos 70 a 90. Todos ainda nos lembramos no que se passou no Chile, na Argentina e no Brasil. Um quadro ideológico como este que está a ser implementado em Portugal é digno duma qualquer ditadura, mas não duma democracia. Uma espécie de "solução final" hitleriana, em que a arrogância do governo até dá um toque duma certa História que pensávamos já ter desaparecido na poeira dos tempos. Mas também um governo de trapalhadas, que tropeça amiúde nos seus próprios pés, como aconteceu com os cortes nas pensões na semana passada. Mas o tempo, (a distância histórica é fundamental para se ter uma visão clara do que se passou), há-de fazer justiça. Por enquanto apenas algumas pontas do véu se foram levantando, dum véu de infâmia e de atentado ao bom nome que a direita - e não só - quis lançar para justificar um dos períodos mais negros da nossa História democrática. Há dias foi Pedro Santana Lopes que veio a terreiro dizer que afinal Sócrates até fez coisas boas e não tinha culpa de muitas coisas que lhe imputavam. Agora Durão Barroso que vem mostrar que, afinal, Sócrates tudo fez para evitar o resgate externo, e até o teria conseguido não fosse a "estranha coligação" que se formou da extrema-direita à extrema-esquerda parlamentares para derrubar o governo. A marcha inexorável do tempo há-de continuar a passar e a verdade aparecerá, talvez lentamente, mas aparecerá. A História aí estará para fazer o seu julgamento. Alguns homens - curiosamente ligados ao PSD - já o começaram a fazer. Peso na consciência ou simplesmente rigor histórico? Pouco importa desde que a verdade apareça em toda a sua amplitude.

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