Turma Formadores Certform 66

Thursday, July 03, 2014

23 anos depois a memória...

Cumprem-se hoje 23 anos sobre a morte de meu avô materno e padrinho José. 23 anos de memórias que se foram fixando com o tempo. 23 anos de saudades que o tempo não consegue apagar. Em torno deste dia, gostaria de vos contar uma pequena estória. Estória real embora mais pareça uma fantasia. Meu avô morreu muito rapidamente desde a altura em que ficou acamado. Pediu-me para lhe construir um jazigo para que a sua mulher - minha avó e madrinha - viesse para junto dele. (Foi um casamento feliz que durou mais de 50 anos!) Assim fiz. Depois da muita burocracia camarária - até parece que ia construir uma casa - lá consegui a licença para a construção. Todos os dias o meu avô me perguntava pela evolução dos trabalhos. Dizia-me sempre que apressasse a construção para que ele, finalmente, pudesse morrer. Assim se foi fazendo. Até que no dia em que ele ficou pronto, lá o fui visitar e ele me fez a pergunta de sempre: "Então, o buraco já está pronto?" Disse-lhe que sim, a medo, porque receava que a "profecia" se viesse a concretizar. E assim foi. Ele disse-me: "Agora já posso morrer em paz". Ao fim do dia, quando vim do emprego voltei à sua casa e ele disse, naquela voz firme (talvez, dura) que ele utilizava nos momentos mais solenes: "Despede-te do teu avô porque não mais o verás com vida". Fiquei atónito. Saí preocupado. O meu avô sempre foi - é - a minha figura tutelar juntamente com a minha avó. Fui para casa com um aperto no coração. Tentaram animar-me mas nada, nem ninguém, o conseguia. Tinha um mau presságio. Estava a tentar jantar quando o telefone tocou para me dar a notícia do seu falecimento. (Ocorreu no dia seguinte ao término da construção do jazigo).  Nunca esquecerei esse momento. Ainda hoje o recordo dolorosamente. Passados 23 anos, parece que foi ontem. Ele que tanto me ensinou. Quanto valores ele me inculcou. Quantas lutas travou em meu nome. 23 anos depois a saudade aí está, pungente, corroendo a existência desta caminhada das pedras da minha vida. Mas a memória ficou para que perdure esse alguém que foi importante na minha vida. Espero que esteja em paz, em nome do que fez, do que lutou, do que amou, daquilo que me ajudou. Descansa em paz, avô José!

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