Um acordo frágil como cristal
Finalmente chegou-se a um acordo entre a União Europeia (UE) e a Grécia. Pelo menos o acordo possível porque não existem situações ideais e até em determinada altura se terá pensado que tal não seria possível. Para tal, teve que haver necessariamente cedências de ambas as partes. Só assim se chega a consensos. Mas uma coisa ficou clara. Desde logo, a Comissão Europeia (CE) foi posta de lado, depois das afirmações de Jean-Claude Juncker - já objeto de análise neste espaço numa outra altura - porque as restantes instituições europeias não lhe terão perdoado o rebate de consciência. Mas uma outra coisa também transpareceu de tudo isto. É que a Alemanha assume o protagonismo todo não deixando espaço aos outros países para se expressarem. Ao que se sabe, numa sala estava a Alemanha e noutra a Grécia. Entre eles andavam algumas pessoas a levarem e a trazerem propostas. Esta é a dura realidade do estado a que chegou a UE. Cada vez mais deixa se ser uma união, no verdadeiro sentido do termo, para ser um somatório de Estados a quem a Alemanha impõe as diretrizes. A CE é aquilo que podemos chamar de governo dos governos, logo ao ser afastada das negociações, apenas resta um aglomerado de Estados onde os mais fortes impõem a lei aos mais fracos. E como a Alemanha é o maior contribuinte líquido, fica claro quem manda. Mas mesmo assim, para iludir os menos atentos, o ministro alemão das finanças não dispensou a seu lado a ministra das finanças do nosso país, para apresentar aquilo que seria a justificação da estratégia do "bom aluno". A Espanha, ao que parece, também não deixou de ser chamada a terreiro, por isso, segundo se diz nos "media", Portugal e Espanha terão sido aqueles que mais dificuldades apresentaram para que o acordo fosse em frente! O irónico de tudo isto, é que sendo nós tão pobres e desgraçados como os gregos, aparecemos a dar ares de grandes senhores, como se não tivesse acontecido nada em Portugal nestes últimos quatro anos. O ser pobre não é crime, a falta de dignidade é que é uma vergonha. Isto é válido para as pessoas mas também para os países. Para que nos deixem cair algumas migalhas da mesa farta dos países do norte, Portugal parece não se importar em fazer o papel de bobo da corte. Coisas tristes se passam nestes dias da ira, nesta Europa de interesses bem longe da que foi pensada no pós-II Guerra Mundial. Sou um defensor da UE e do euro desde o seu início. (Ainda há dias o defendi numa conferência). Mas não desta UE em que um país dita as regras que os outros vão ter que seguir. Isso não é uma verdadeira união. A Grécia terá o cutelo sobre a cabeça nos próximos quatro meses. Durante esse tempo, a possibilidade de sair do euro será um dos temas em cima da mesa. Espero que o bom-senso impere e que tal não venha a acontecer. Porque se a Grécia sair, a possibilidade de irmos atrás é enorme. Mesmo com a proteção anunciada para Portugal se tal se vier a verificar. É que de palavras estamos todos fartos. E na altura não existirão quaisquer garantias de que isso venha a verificar-se e que preço teríamos que pagar. (Não nos esqueçamos que no início desta semana, havia um acordo da Grécia com a CE, - daí as palavras de Juncker - acordo esse que foi retirado para a reunião do Eurogrupo por pressão da Alemanha). Se a Grécia sair do euro será a pequena picada de alfinete que irá fazer com que o dique rebente mais cedo ou mais tarde. Se a Grécia sair do euro, o projeto europeu será fortemente atingido. Não podemos prever as consequências, mas seguramente, momentos de muito aperto nos esperam. Mas uma virtude teve a Grécia neste processo. É que nada ficará como dantes. Os assuntos que até agora eram tabús deixaram de o ser. E isso, só por si, já foi um grande avanço. E como dizia uma publicidade portuguesa publicada nos jornais gregos: "Aguentem gregos porque os reforços estão para chegar!". Não tanto atitudes como as que Varoufakis ontem denunciou quando disse que: "Eles (Portugal e Espanha) estão a ser mais alemães do que a Alemanha". Algo incrível que nos deve envergonhar a todos.
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