De saída do euro?
Apesar de ser Domingo de Páscoa, o mundo da política e dos negócios não pára. Foi o que aconteceu no passado domingo. Em Washington, Lagarde e Varoufakis estiveram reunidos para, segundo a versão oficial, discutirem as novas medidas para a Grécia. Contudo, nos corredores políticos, fala-se cada vez mais na possível saída da Grécia da zona euro. Não sei se é assim ou não, mas sempre fiquei com a sensação de que o "mais tempo" que Tsipras pedia, era para arrumar a casa e preparar a saída do euro. Apesar dos seis meses que as "instituições internacionais" concederem - a nova designação para a "troika" - parece-me tempo demasiado curto para a implementação duma nova moeda nacional. Implica negociações complexas, ajustamentos paritários com os outros bancos centrais, enfim, uma panóplia de situações que não se podem agilizar em tão curto espaço de tempo. E mesmo que isso seja verdade, coloca-se desde logo, uma questão importante. Qual a paridade da nova moeda? Dada a situação grega, é de prever que a nova moeda - será de novo o "dracma"? - surge fortemente desvalorizada. (Quando essa questão assumiu alguma discussão entre nós, falava-se duma desvalorização próxima dos 50%, se bem se recordam!) Isto quer dizer que, dada a situação atual na Grécia - que é muito pior do que a portuguesa à época - essa desvalorização será muito superior a 50%. Mas, mesmo sendo de 50%, as implicações para os gregos serão fortíssimas. Desde logo, para quem tiver empréstimos da banca para, por exemplo, comprar habitação própria, verá a sua dívida aumentar em 50%! E isto apenas para um caso concreto. Mas que será da vida dos gregos? Como se posicionará a economia grega que, apesar de poder desvalorizar a moeda - coisa que agora não pode - terá sérias dificuldades em reequilibrar a sua balança comercial, para não falar nas próprias Balanças de Pagamentos e de Transações Correntes que aparecerão fortemente instabilizadas. Desejo o melhor para a Grécia, como desejo o melhor para todos os países europeus. Mas tenho dúvidas - caso se confirme esta situação - que tal venha a acontecer. Desde há muito que o discurso político europeu é o de estar ao lado de Portugal caso isso se verifique, o que indicia que tal está já há muito em cima da mesa. Mas não creio que seja assim. Porque o mundo da política, e sobretudo, o mundo dos negócios é muito volátil em situações afins. O que me leva a concluir que, caso a Grécia abandone a zona euro, países como Portugal, Espanha e Itália, dificilmente lá continuarão, e mesmo que permaneçam, será preciso saber a que preço. Sou, como já por variegadas vezes afirmei, um grande defensor do projeto europeu e do euro apesar dos muitos erros que se cometeram. E estou certo que, quando a zona euro se começar a desintegrar, será o projeto europeu a desfazer-se. A instabilidade voltará à Europa, continente que sempre foi consumido por conflitos intestinos, até à criação da União Europeia. (Veja-se uma pequena amostra do que foi o conflito nos Balcãs que a UE foi incapaz de gerir). Por isso, acho que nos devemos preparar para o pior. A questão grega não é só da Grécia, pode ter implicações muito graves noutros países, sobretudo, os periféricos. Podemos estar no limiar duma nova era, mas seguramente, que será uma era mais instável e amarga do que tem sido até aqui. E porquê isto agora? Apenas e só, porque alguns países do norte da Europa, liderados pela Alemanha, quiseram impôr as suas regras, as mesmas que esses países não foram capazes de cumprir quando se viram em situação de aperto. O próprio euro foi, desde o início, aprisionado pela Alemanha, que o transformou numa espécie de moeda nacional - o Deutsche Mark (DEM) disfarçado - que deu no que deu. Esses países com as suas estratégias nacionalistas - bem longe do ideário europeu - são os verdadeiros responsáveis por tudo isto. Estamos a caminhar numa vereda que pode ser muito perigosa. que inclusivé poderá vir a redesenhar os contornos da Europa, como no passado, foram redesenhados por diversas vezes, à força de bala e sangue derramado. Veremos se esta reunião em pleno Domingo de Páscoa, foi uma reunião apaziguadora ou se, pelo contrário, foi o abrir da "caixa de Pandora".
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