24 anos de saudade
24 anos volvidos! Parece que foi há minutos. Nesse fim de tarde solarengo, o meu avô materno José - simultaneamente, avô e padrinho - deixava-me. Ele foi o terceiro duma saga de familiares que desapareceram num curtíssimo espaço de tempo. Mas o meu avô (tal como a minha avó e madrinha) era o meu mentor. A pessoa que me ensinou as primeiras letras. Ele era o avô que, quando estava de férias escolares, me estimulava a reservar duas horas por dia para estudar - dizia-me ele que era para eu não esquecer o que tinha entretanto aprendido - marcando-me tarefas escolares que à noite, quando regressava do emprego, ia corrigir. Assim me foi ajudando a criar a minha própria consciência, a acumular cultura para que, como ele me dizia, me ajudar a compreender melhor os ruídos do mundo que me cercava. Talvez o considerassem um idealista. Para mim foi um visionário. Já enquanto pai, pôs um filho a estudar quando a generalidade ia trabalhar. Sendo ele um homem de condição humilde, por vezes havia quem não entendesse. Mas ele acreditava e assim foi ajudando a construir as gerações futuras. A dos filhos primeiro, depois a dos netos. Por isso lhe estarei sempre eternamente grato. A ele que me definia sempre barreiras que pareciam intransponíveis mas que, com algum esforço, eu lá ia passando. "Assim se fazem campeões", afirmava. "Um dia hás-de reconhecê-lo" e reconheci. Sempre me definiu regras de ouro das quais não abdicava. Amiúde me dizia para estudar, ser ambicioso no conhecimento porque era isso que me haveria de distinguir dos restantes. "Nunca te esqueças que os segundos são os primeiros dos últimos" uma frase recorrente que entrou no meu léxico desde bem cedo, e que hoje, pretendo legar às gerações mais novas. Por tudo isto, lhe estou grato. Pode não ter sido ele que construiu o edifício da minha vida, (afinal era um homem modesto), mas foi ele que sonhou, que idealizou, que projetou e que, por fim, lançou a primeira pedra. O mundo também é dos sonhadores. E ele foi-o. Ajudou muitos jovens a começar no caminho das letras. E é frequente que, alguns desses se cruzem comigo, e me lembrem esses momentos. Todos deixamos a nossa marca no mundo. Uns mais visível do que outros. Ele deixou-a também e projetou-a no futuro. Futuro transportado, precisamente, por esses outros jovens que ajudou. Há pessoas assim. Seres maiores a quem uma homenagem é sempre pouco. Eterna saudade a ti, avô José. Que estejas em paz!
0 Comments:
Post a Comment
<< Home