Grécia. Nove mitos sobre a crise
O referendo é sobre o euro? Os credores têm sido flexíveis? O ‘Não’ vai destruir a Europa? Estes são alguns dos mitos que o economista James K. Galbraith tentou desmontar. James K. Galbraith, economista norte-americano da Lyndon B. Johnson School of Public Affairs, da Universidade do Texas, e ex-colega de Varoufakis, escreveu um artigo para o site Politico.eu onde procura desmontar “nove mitos sobre a crise grega”. Considerando que o referendo do próximo domingo pode determinar a sobrevivência do governo e o destino do país na Europa e na zona euro, o economista salienta que tem acompanhado de perto a crise grega, tanto desde os EUA como desde Atenas, tendo percebido “que há muitos mitos em circulação sobre a crise que devem ser desafiados”. Deixamos aqui alguns:
O referendo é sobre o euro
Galbraith lembra que assim que o referendo foi anunciado, François Hollande, David Cameron, Matteo Renzi e Sigmar Gabriel, respectivamente líderes de França, Reino Unido, Itália e o vice-chanceler alemão, foram rápidos a dizer que o voto no “não” dava direito à saída do euro. Ora, lembra o economista norte-americano, não só o governo grego tem repetido que qualquer que seja o resultado vai continuar comprometido com a Europa como, “legalmente, e de acordo com os tratados, a Grécia não pode ser expulsa nem do euro nem da União Europeia”.
Os credores têm sido generosos
Angela Merkel, diz Galbraith, referiu-se aos termos propostos pelos credores como “muito generosos” para a Grécia. “Mas os credores continuam a insistir num programa de austeridade esmagador, prevendo excedentes primários que a Grécia jamais conseguirá e a continuação de políticas draconianas que já custaram aos gregos mais de um quarto dos seus rendimentos e afundaram o país em depressão.” Já a reestruturação da dívida, “que é obviamente necessária”, foi recusada.
O BCE tem protegido a estabilidade da Grécia
Aqui Galbraith chama a atenção para dois factos: Primeiro, que o BCE desde Fevereiro cortou o acesso da banca grega aos financiamentos directos “dando-lhes antes, e gota a gota, uma liquidez de emergência que sai muito cara”. Isto, diz, provocou uma lenta agonia dos bancos que, com a decisão recente do BCE de “limitar a assistência à banca grega”, deu a desculpa para a imposição do controlo de capitais e “efectivamente fechou os bancos”. Já fora do texto de Galbraith, é ainda de lembrar que as recentes corridas aos balcões bancários por parte dos gregos foram desencadeadas por um relatório do banco central grego, que desenhou um cenário apocalíptico no caso de Tsipras não chegar a acordo com os credores, ainda as negociações estavam a decorrer.
O voto no ‘sim’ salva a Europa
“O ‘sim’ significa mais austeridade e destruição social e o governo que as implementar não vai durar muito.” Galbraith aponta que Tsipras e Varoufakis não as implementarão seguramente, o que implica que deverão apresentar a demissão, um desejo de muitos líderes europeus, aliás. Mas Galbraith alerta que a queda do Syriza pode trazer algo pior. “Estes (Tsipras e Varoufakis) são os últimos líderes, provavelmente em toda a Europa, da autêntica esquerda pró-europeia. Se caírem, seguem-se os antieuropeus, possivelmente da extrema-direita, como a Aurora Dourada. E o fogo antieuropeu alastrará para a França, Reino Unido, Espanha, entre outros países.”
O voto no ‘não’ destrói a Europa
“Só o ‘não’ pode salvar a Grécia”, declara Galbraith. “E ao salvar a Grécia, salva a Europa.” Este economista vê no “não” o único sinal que os credores irão perceber, já que assinalará “que os gregos não vão ajoelhar-se” e só assim será possível “negociar de forma adequada”. Galbraith termina com um apelo: “Se alguma vez houve um momento em que os Estados Unidos devem levantar a voz pelos valores da democracia, esse momento é agora.”
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