Turma Formadores Certform 66

Monday, July 06, 2015

E agora Europa?

Estamos a assistir a um grande momento da História europeia e mundial. Depois da chantagem que foi feita pelas instituições sobre a Grécia, o seu povo não teve medo, não se vergou, e afrontou duma forma clara a Europa. Um povo que sempre viveu no fio da navalha durante três mil anos, está por demais testado nestas coisas. A humilhação que o povo grego tem sofrido, - tal como nós em Portugal -, não pode passar ao lado desta questão. A União Europeia (UE) tem vendido a ideia da inevitabilidade, desenhando assim, uma nova Europa, onde os países do norte enriquecem sempre à custa dos do sul, esmagados por uma austeridade, uma dívida e respetivo serviço, insuportáveis que nunca se irão pagar. (Tenho alertado para esta situação entre nós, que já nos tempos da Monarquia apoquentava o país. Daí que nos anos trinta, Salazar tivesse reestruturado a dívida que só viemos a liquidar na totalidade em Janeiro de 2001!) Assim se vê que esta não é uma situação nova, nem para nós, nem para os gregos. Só que os gregos afinal foram o povo que inventou a democracia, um pormenor que parece ter escapado a alguns. Desde logo à Europa, aquela Europa que permite governos de cariz fascista nos seu seio, como é o caso da Hungria, e que, caso vencesse o "sim" na Grécia, abriria as portas a um governo do Aurora Dourada, mais um partido neofascista. Assim, a vitória do "não" pode obstar a que se radicalize ainda mais a situação no extremo da Europa. Depois temos a posição geo-estratégica da Grécia como membro da Nato. Muitas equações com várias variáveis para que houvesse um resultado simples. Como já por diversas vezes afirmei, sou um europeísta sem reservas, e um federalista por convicção. Mas mesmo assim, não posso deixar de me regozijar com o "não" grego. Parece um paradoxo, mas não o é. Porque a Europa em que acredito é a da solidariedade e não a da autocracia liderada por uma Alemanha sempre ávida de poder, depois de dois desaires mundiais. Tique de que aliás nunca se recompôs. Essa era a Europa idealizada por Jean Monet e posta em prática por Jacques Delors. (A propósito de Delors, vejam as suas declarações dos últimos dias). Não aquela Europa em que o Banco Central Europeu (BCE), pela primeira vez, tomou uma posição política e não técnica, com vista a dificultar a vida aos gregos e condicionar os resultados do referendo. As medidas que tomou levaram ao controlo de crédito que doutro modo não seria necessário. Buscava-se duma forma sibilina o descontentamento do povo. E o povo não gostou e reagiu mas no seu sentido contrário. O dia seguinte pode ser tudo ou pode não ser nada, mas uma coisa tomemos por certa, a Grécia e o seu povo deram, de facto, uma lição de democracia ao mundo. Uma lição dum povo que pode morrer de pé, mas que não se sujeita à canga dum qualquer país por mais poderoso que seja. (E que o governo português tire as devidas ilações depois da pressão que fez contra a Grécia e que os "media" noticiaram). Amanhã, talvez ainda esta noite, alguns dos restantes dezoito começarão a divergir. Afinal, o medo pode ter sido definitivamente abalado esta noite. O ficar ou sair do euro pode ser jogado na mesa das negociações, mas isso agora, ainda é uma coisa menor. Hoje, apesar de tudo, é um grande dia para a Europa, não a Europa tecnocrática, mas a Europa solidária e federal que alguns sonharam. A minha homenagem ao povo grego. Acabaram de dar uma grande lição. Viva a Grécia!

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