A polémica da taxa de desemprego ou a longínqua terra prometida
Temos vindo a assistir a uma polémica em torno dos números do desemprego. A maneira como as coisas se discutem dá a sensação de que não é de pessoas que se fala, nem que por trás desses números existam dramas sociais, familiares, verdadeiramente avassaladores. Mas não deixa de ser interessante a polémica para além do drama que encerra. Desde logo, o discutível acerto de números nesta altura e com pouco esclarecimento que deixou todos perplexos. (A dois meses de eleições e nunca esclarecido). O curioso é que o ajuste do segundo trimestre deste ano faz com que pareça que estamos a assistir à derrogação de todos os princípios matemáticos. Se analisarmos bem, os meses de Abril a Junho apresentam valores na casa dos 13%, 12% e, de novo, 12%. (Estamos a falar de valores inteiros). Daqui se infere que a média do trimestre não possa apresentar um valor de 11%! O certo é que ninguém ainda veio esclarecer o porquê do acerto, nem que contas são estas que dão um valor, no mínimo, curioso. Claro que isto dá um jeito enorme à maioria, mas não deixa de deixar um rasto de desconfiança na oposição. Todos sabemos que os dados estão inquinados desde início. Porque os que já não estão inscritos, embora desempregados, não aparecem nas estatísticas, os que estão em ações de formação também não - e nunca houve tanta gente em formação o que não deixa de ser curioso -, não estão contabilizados os muitos que emigraram e continuam a emigrar, enfim, um conjunto de situações que, se fossem consideradas, atirariam a taxa de desemprego para valores próximos dos 22 a 25% (!), bem longe daquilo que o Instituto Nacional de Estatística (INE) nos diz, num discurso que é bem acompanhado pela governação. Perante tamanha confusão, até os trabalhados do INE se viram na necessidade de vir a terreiro dizer o que lhes vai na alma. Isto não deixa de fazer lembrar a monumental confusão da colocação dos professores no ano passado, e até, convém lembrá-lo, a mesma confusão a quando da governação de Santana Lopes. Confusão existe a rodos e não é só agora, sendo este apenas mais um capítulo nesta longa e triste novela. Estamos convictos que o esclarecimento apenas virá - se vier - após o dia 8 de Outubro. Até lá, tudo será mantido neste limbo que agrada a alguns, mas não aos muitos desempregados que não vêm maneira de sair da sua triste situação. E isso é que é preocupante. A maneira como se utilizam pessoas, com vidas e dramas pessoais, inseridos numa qualquer folha de excel, sem rosto ou emoções. Assim, lá vamos caminhando para a encruzilhada, bem longe daquela miríade de leite e mel que nos querem vender amiúde. As últimas indicações que ontem vieram a terreiro através do FMI são disso exemplo. Tal como Moisés, parece que estamos bem longe ainda da terra prometida - ou melhor da terra que nos prometem - e arriscamo-nos a tal como a figura bíblica, a morrer antes de a atingir. Porque como diz Keynes, "no médio / longo prazo estamos todos mortos". E a tal terra prometida donde jorra o leite e o mel está tão longe que por vezes pensamos ser uma miríade, uma alucinação, derivada da travessia deste imenso deserto chamado Portugal.
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