Turma Formadores Certform 66

Friday, July 15, 2016

A morte saiu à rua

14 de Julho, dia nacional de França. Um dia que é de festa popular. Neste dia a morte saiu à rua de novo, desta vez em Nice. Em pleno coração da Côte-de-Azur, o terrorismo atacou, impiedosamente. Homens, mulheres, crianças, não tiveram a escolha do terrorista. Apenas a morte era transportada no seu camião, ironicamente branco, a cor que devia ser de paz. A Promenade des Anglais, uma bela avenida marginal ao Mediterrâneo, trocou a sua alegria e o seu colorido pelo negro das trevas, pelo negro da morte. Esse belo espaço de vários quilómetros onde já tive o prazer de pisar por várias vezes, era agora um cemitério de gente que morreu sem saber porquê. Famílias destroçadas, palavras que nunca foram ditas, gestos adiados na eternidade. Sonhos interrompidos, brincadeiras que ficaram a meio, gestos suspensos para sempre. Carros de bebé vazios porque os seus utilizadores já lá não estavam, tinham sido arrastados na onda assassina dum franco-tunisino. Porquê? Porque será que estas coisas acontecem? Porque será que os seus autores são, normalmente, gente nascida, educada, formada no ocidente, com a cultura que nos une, embora com o islamismo como pano de fundo? Como pode o terrorismo confundir-se com religião seja ela qual for? Como a intolerância, o ódio gratuito podem ser bandeira de algo que se quer construir? Como é possível haver gente capaz disto? Em nome de quê? Se é que existe um 'quê' no fim desta equação. Na bela e cálida cidade de Nice a noite caiu como sempre acontece na esperança dum novo dia, duma esperança nova, renovada. Hoje o dia não apareceu. Ficou suspenso, nesta hora das trevas, nesta hora de noite profunda. A morte saiu à rua de novo em França. Poderia ser em qualquer país da Europa. Poderia ser no meu país. A morte saiu à rua em Nice, a cidade escolhida. Porque o ódio não tem fronteiras, nem credos, embora haja quem o queira ligar a um, o ódio e o terror são isso mesmo, ódio e terror, nada mais. O grito do nada, o grito do medo, o grito do vazio. A morte saiu à rua, cobardemente de noite, como cobarde é quem tal ato praticou. Mas nunca devemos esquecer que à noite, um dia luminoso se seguirá. De luto com certeza, mas dia. A luz romperá as trevas sempre por mais que haja quem queira que seja diferente. Por mais que haja quem queira alterar o rumo do Universo. Mas a luz virá, inexoravelmente, firme e clara. Para aquecer os corações dos que sofrem e para dar ânimo aos que lutam contra as trevas. A luz virá. Não devemos ter medo. Ela virá em Nice ou noutro lado qualquer, em França ou noutro país qualquer, na Europa ou noutro continente qualquer. As trevas seguirão o seu terrível destino, o seu desaparecimento. A luz vencerá.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home