Turma Formadores Certform 66

Monday, July 25, 2016

Caridade cristã (2)

Passa hoje uma semana sobre um caso que me preocupou, (num texto a que dei o nome de 'Caridade cristã'). O de um senhor que encontrei a pedir numa rua de nacionalidade búlgara. Como vos disse então, ele embora aceitasse dinheiro, o que ele mais pedia era que lhe arranjassem roupa. (Hoje trago-vos a conclusão). Ontem voltei ao local para ver se o via. Não estava lá, talvez a canícula que se faz sentir o tivesse afastado. Quando me dirigia para a Igreja na ânsia de encontrar as pessoas com quem tinha falado na semana transata, por coincidência logo na escadaria encontrei uma delas. A tal a que chamei então de 'rato de sacristia', aquela a que por engano me dirigi de início pensando que pertencia a uma das organizações da paróquia que apoia estas causas. Ela que tinha prometido ficar vigilante e até ajudar, afinal não ajudou nem esteve vigilante. (Apenas a incomodou os sapatos que, segundo ela, ele tinha escondido e utilizado para lhe servir de assento). De nada sabia, ela que mora no local. Fui ter com o sacristão com quem também tinha falado na semana passada. Que sim, que tinha falado às pessoas que normalmente tratavam desse caso, mas mais nada sabia para me informar. Fico triste com isto. Afinal, e parafraseando uma expressão que utilizei no texto anterior, 'a caridade cristã esta a resvalar para o esgoto'. As pessoas tomam nota e logo passam para a pessoa seguinte. A sua missão, segundo eles, está terminada e o problema passou a ser do outro. E assim sucessivamente. No fim da linha, acabei por não saber quem ficou encarregue,  - se alguém assumiu esse encargo -, de ajudar esse meu irmão que agarrado ao chão onde a vida o colocou, olhava para cima, para cada um dos que por ele passavam, com aquele olhar vazio e humilde de quem espera ajuda. Não sei se essa ajuda veio ou não. Possivelmente não. Talvez se algum canal televisivo estivesse por perto, aparecessem todos em catadupa. Mas não havia ninguém. Apenas eu e mais alguns transeuntes que passavam indiferentes. (Afinal aquele não era o seu problema e até olhavam para o lado para que a consciência não saísse dali abalada). Estes são os nossos tempos. Aqueles tempos em que, mesmo nas celebrações religiosas se pede ajuda para ajudar, segundo dizem, mas que depois não sabemos onde essa ajuda chega e se chega. Um pároco que incentiva os fiéis a não darem esmola, porque será a Igreja a fazê-lo com o seu superior critério! Mas que critério? Afinal aquele meu irmão, possivelmente, continuará submisso, agarrado a esse chão que pisamos com indiferença, a caminho dum rito de atos de contrição e de batidas no peito. Enquanto isso, aquele meu irmão, que mal falava a nossa língua não estava ali. Talvez se tenha mudado para outro lugar na busca da ajuda que aqui, me parece não ter recebido. Sentado no chão, erguendo o olhar para quem passa, na busca daquela caridade cristã em que talvez ele ainda acredite. Eu já há muito que tenho demasiadas dúvidas. Afinal, fizemos os dias assim!...

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