"Os Maias" - Eça de Queirós
Trago-vos hoje um livro que é um clássico da literatura portuguesa. Trata-se de 'Os Maias' a obra prima de Eça de Queirós. No meu tempo de jovem estudante, era de leitura obrigatória na disciplina de Português, hoje confesso que não sei, mas se não o é, tenho pena. Porque Eça era um caricaturista exímio das figuras do seu tempo, dum certo tempo em que Portugal, - tal como hoje -, passava por momentos de grande aflição. (Afinal parece que o nosso país não mudou assim tanto quanto à sua maneira de ser). E depois, porque ele era um mestre da escrita, que hoje é tão pobre junto da juventude. E por isso mesmo, o utilizo em muitas das conferências que faço. Especialmente este livro que, como já afirmei muitas vezes, é uma visão num tempo de crise económico, na altura bem mais grave do que aquela porque passamos recentemente. Eça publicou este livro em 1888, precisamente numa altura em que Portugal estava a braços com uma terrível crise, que levaria à contração dum empréstimo junto do Banco de Inglaterra que viria a ser pago na íntegra mas só em Janeiro de 2001! Daí utilizar este livro nas minhas intervenções porque é um bom exemplo do paralelismo do Portugal de então com aquele outro em que vivemos. Mas voltemos ao livro e ao autor. 'Os Maias' tratam dum caso de amores incestuosos entre irmãos - embora desconhecendo a sua situação - numa Lisboa pequena e mesquinha, dizendo mal de tudo e de todos - tal como hoje - achando sempre que o que vem do estrangeiro é melhor - aqui também, um grande alinhamento com o que se passa nos nossos dias. Afinal a condição do nosso país nesse tempo (e noutros ainda mais remotos) é bem igual ao Portugal de hoje. Nunca fomos capazes de ser diferentes, talvez pela nossa condição de latinos, talvez porque sempre tivemos quem nos financiasse os desvarios. Seja como for, este é um retrato duma certa Lisboa e dum certo Portugal em pleno século XIX, pintados com a mestria que só Eça conseguia ter. Eça que foi mais um dos chamados 'vencidos da vida' porque, no fundo, a visão da nossa mesquinhez pequenina com assomo de grandeza, acabaria por nos amarrar a um destino sempre rotineiro, sempre igual, e os tempos modernos são disso um bom exemplo. Sobre Eça de Queirós já pouco há a dizer porque já tudo foi dito. Nasceu na Póvoa de Varzim em 1845, formou-se em Direito em Coimbra, tendo-se então associado ao grupo vanguardista liderado por Antero de Quental, embora tenha ficado de fora da chamada '^Questão Coimbrã'. Ao ingressar na carreira diplomática aqui irá buscar inspiração para muita da sua obra e afirmar o seu cosmopolitismo. (Recordo aqui um opúsculo que aconselho que leiam que tem por título 'O 1º de Maio' escrito em Paris com uma belíssima caraterização da sociedade parisiense e um certo paralelo com o que ele via em Portugal). Viria a falecer em 1900. Mas também queria aqui deixar a nota da edição do livro. A edição é da Porto Editora numa série económica onde se podem encontrar grandes autores portugueses a preços quase simbólicos. (O 'fac-simile' da capa é o anexo). Uma oportunidade para dar a conhecer a nossa literatura a todos aqueles que não tenham muita disponibilidade económica para comprar livros. Uma saudação à editora por conseguir por no mercado livros de grande qualidade a preços muito populares. A ler ou reler Eça, mas também descobrir tantos outros que enobreceram a língua portuguesa.
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