Financiamento da economia portuguesa
Ontem, e depois de muita espera, a agência canadiana DBRS lá emitiu a sua posição. Mantém a mesma do passado, ou seja, BBB- (perspetiva estável), isto é, mantém o país acima de 'lixo' o que nos permite o financiamento junto do Banco Central Europeu (BCE). Chegados aqui é comum a dúvida do cidadão sobre o que estas agências fazem. Elas dão o 'rating' das Repúblicas com vista a dar sinais aos potenciais investidores. E aqui é que está o busílis da questão. Senão vejamos. Portugal tem neste momento juros muito baixos (até negativos), - fruto da compra maciça do BCE sem dúvida, mas também da performance da governação, que é reconhecida - mas bem melhores do que obtém Espanha e Itália. Quer o BCE, quer a DBRS, ambas são unânimes em dizer que Portugal está no bom caminho, que os sinais são bons (embora existam algumas fragilidades, que são naturais) mas que se deve continuar a ir em frente. (Até reconhecem que o sistema financeiro está a melhorar e a estabilizar). Portugal terá este ano um défice dos mais baixos em 42 anos de democracia e para o ano seguinte prevê-se ainda um resultado melhor. (Se é injusta a situação face ao atual governo, o não é menos face ao anterior que, como se lembram, para além de cumprir o que lhe foi exigido, até foi para além daquilo que seria necessário, como disso fez bandeira em tempo passado). Então porque mantêm o 'rating'? Dizem que as fragilidades derivam do fraco crescimento da economia e do elevado nível de endividamento. Se os sinais sobre o 'rating' se mantêm, é natural que os investidores se retraiam. Ao retraírem-se a economia não cresce - será o investimento externo o motor - e como tal acontece, será natural que o PIB continue fraco e a dívida seja cada vez maior, não tanto porque não a tenhamos amortizado, mas mais, pelo efeito cumulativo do serviço da dívida que a vai incrementando. Aqui chegados duas questões se colocam: a primeira, prende-se com a motivação dos investidores coisa para a qual as agências de 'rating' nada têm contribuído; a segunda, é que esta dívida para ser exequível, a sua resolução necessita de ser reestruturada. Muita gente fica incomodada quando se fala em reestruturar a dívida, mas mais cedo ou mais tarde, tal terá que ser equacionado não só para Portugal mas para outros países com elevada dívida como, por exemplo, os já citados, Espanha e Itália, mas não só. O que significa que as empresas de 'rating' que dão sinais aos investidores têm-se comportado, - nestes anos mais difíceis -, como verdadeiras agências que ajudam à especulação financeira, seja na compra como na venda. Mais do que dar o sinal aos investidores, elas influenciam os agentes económicos ajudando à especulação. Só assim se compreende que só a DBRS tenha mantido o país acima de 'lixo' quando todas as outras o mantém abaixo, mesmo com sinais altamente positivos do desempenho do país. Esta é, - e porventura continuará a ser - a sina dos países pequenos, com economias mais débeis e periféricas, que são jogados como moeda de troca nos grandes palcos de decisão financeira. Contra isso nada poderemos fazer, seja qual for o governo ou o desempenho da governação. (O Orçamento de Estado (OE) para 2017 é disso exemplo). Estaremos sempre numa posição dependente. E como estamos inseridos numa União Europeia (UE) nem sequer temos o espaço de manobra que o país teve nos anos 30 do século passado, face a problema idêntico. Temos que seguir as regras que são para todos, embora nem sempre tal pareça ser o desiderato.
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