Turma Formadores Certform 66

Sunday, November 13, 2016

À memória de mais um grande companheiro!... (Estou de coração destroçado)

Cerca das 14,00 horas de hoje a vida de mais um ser meigo, amigo do seu dono, dócil, virava estrela no céu. Não tinha nome que se conhecesse. Era apenas um cão que não merecia ter tido o dono que teve. Conheço-o há muitos anos. Eram dois de início. Um deles fugiu e foi adotado por uma família próxima. Ele ficou. Não sei porquê. Talvez por amor a um dono que não lhe tinha amor algum. Segundo o dono, os cães não eram dele. Iriam ser abandonados numa mata por um amigo seu. Ele ofereceu o terreno onde foram colocados. Como lixo. Depois de muita polémica, uma senhora que vivia em frente e que do seu prédio avistava o que lá se passava, não resistiu. Começou a pedir aparas num talho aqui existia então nesta zona. O dono do talho, porque gostava dele, até uma escada punha do passeio para o muro, para lhe atirar de comer e deitar água. (Cumpre informar que se trata dum terreno com muros altos que torna a vista impossível para dentro). A senhora, depois de muitos esforços conseguiu chegar à fala com o proprietário. Que não queria trabalho algum para cuidar do bicho. Até lhe deu uma chave para que ela pudesse entrar e tratar do animal. Comprava paté e pedia comida, tudo à sua custa, porque o dono raramente contribuía com algo. Quando lá passava, o cachorro sempre me saudava numa espécie de 'janela' que se tinha aberto no muro duma parte que desmoronou há já muito tempo. Ali ele estava. Toda a gente o conhecia. Todos lhe dávamos de comer, para além do que essa senhora levava e da maneira como dele cuidava. Triste e abandonado ele ali viveu o que restava da sua vida e que ainda durou muitos anos. Por vezes com a companhia dumas ovelhas que esse sujeito para lá leva. Quando elas lá estavam ele era acorrentado. Ainda há meses assim esteve, não com uma coleira, mas com um outro tipo de colar que se utiliza nos bois!!! Ali ele ficava resignado. Quando estava acorrentado não podia vir à parede saudar quem passava. À cerca de um mês a saúde do animal começou a fraquejar. A idade já era muita. O seu antigo companheiro, que tinha sido adotado por uma família, à muito que já partiu. Ele apesar de tudo ia resistindo. A senhora que dele cuidava por caridade, nestes últimos tempos, e porque já começava a ser demais para ela, pediu-nos ajuda. Construiu-se um abrigo, tentou-se dar uma maior dignidade a este nosso companheiro porque ele já tinha dificuldade em ir para o anexo onde costumava ficar. O veterinário por lá aparecia de vez em quando a pedido do dono, apenas e só, porque a senhora insistia. Ontem veio para fora do anexo onde gostava de estar e já não conseguiu entrar. Tentou-se levá-lo para dentro mas não foi possível. O seu estado de magreza era tal que parecia que a qualquer momento os ossos iam perfurar a pele. Já à algum tempo tinha deixado de comer. Embora ainda ontem tenha acabou por comer algum fiambre, - coisa que ele gostava muito -, que lhe tínhamos levado. Fez-se outro abrigo para evitar a chuva. Hoje de manhã, segundo fomos informados, o seu estado era estável mas a degradar-se. Ao início da tarde fomos chamados pela senhora a dizer que o bicho estava com hemorragias. Ligou ao dono e ao veterinário. As moscas tinham tomado conta dele. Parece que até os olhos já nem existiam. Cerca das 14,00 horas ele era eutanasiado. Apenas para lhe evitar mais sofrimento. Ele estava mesmo a poucas horas do fim. (Embroa compreenda isso, sou contra a eutanásia e fico sempre dividido quando sou confrontado com situações destas). Agora é minha crença de que tenha encontrado a paz. A paz que não teve em vida. O amor que sempre dedicou ao seu dono, que o ignorava. Não conheço o dono. Nunca o vi. Ele raras vezes vinha ao terreno. Nem era preciso. Até foi melhor assim. Porque este lixo social infeta tudo por onde passa. Só espero que um dia, quando o seu fim se aproximar, ele sofra tanto quanto esse animal sofreu, e que ele se lembre disso. (Muitas vezes aconselhei que se denunciasse a situação. A senhora não queria. Primeiro para evitar mais problemas. Depois porque tinha medo que ele a impedisse de ir cuidar do pobre animal. E por fim, que o abandonasse ou até o matasse. Ela gostava muito dele como todos nós). Quanto à senhora que dele cuidou todos estes anos, é uma daquelas almas maiores. Tem animais em casa, um deles já totalmente cego, que ela cuida com muito amor. Tal como cuidou deste infeliz, apenas e só por caridade. (Aqui quero deixar o meu agradecimento à D. Maria José por tudo o que por ele fez. A sua recompensa há aparecer na altura própria, estou certo). Quanto ao pobre cão, só espero que tenha reencontrado finalmente um outro mundo com mais amor e carinho. Porque ele foi amado, não por quem devia, mas por quem dele cuidava. (Como tenho o meu coração dilacerado! Porque será que temos que sofrer tanto assim?). E ali ficou, amortalhado, à espera do dia de amanhã, para ser sepultado no terreno onde viveu os últimos anos da sua vida. Hoje mais uma estrela no céu brilhará. Não terá nome. Mas o seu brilho será intenso. O brilho de amor dum ser magnífico. Descansa em paz, companheiro!

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