Turma Formadores Certform 66

Friday, November 18, 2016

"Vaticanum" - José Rodrigues dos Santos

O Natal está a aproximar-se e nem sempre sabemos o que comprar. Porque não um livro? E se for essa a opção, aconselho-vos este "Vaticanum" o último romance de José Rodrigues dos Santos. O autor é um dos mais lidos em Portugal. A sua obra é vasta e de muita qualidade. E quando um novo livro assume a configuração dum 'thriller' ainda mais satisfeito me deixa e, ainda por cima, quando nele entra a já familiar e famosa personagem de Tomás de Noronha, - uma espécie de 007 à portuguesa -, então fico rendido. Nos seus livros, José Rodrigues dos Santos tenta alinhar sempre duas ideias. Uma ideia força sobre um determinado tema, sempre auscultando o mais possível provas documentais; e a outra onde se embrulha tudo, que é a fase romanceada com uma estória a condizer. Aqui voltou a acontecer o mesmo. Por trás das 'investigações' de Tomás de Noronha, há uma estória bem real e vergonhosa, (que é do conhecimento de muitos), que se resume às ligações perigosas entre o Vaticano, a máfia e a alta finança. Todos nos lembramos do escândalo do Banco Ambrosiano, duma figura sinistra e subreptícia como foi o arcebispo Marcinkus, da maneira como a máfia aparece por trás de tudo isto, onde nomes como Licio Gelli, Calvi ou Michele Sindona aparecem neste atoleiro, que num caso famoso como foi o escândalo Enimont, levou à cúpula do Partido  da Democracia Cristã italiano, envolvendo o seu tesoureiro Severino Citaristi e até o antigo primeiro ministro italiano Giulio Andreotti. Bem como as lojas maçónicas P2 e P4, esta última chefiada por Luigi Bisignani que era afilhado de Andreotti. Tudo isto está profusamente documentado e ocupou as páginas dos jornais nos anos 80 e 90 do século passado. Isto começou a desenhar-se no papado de Paulo VI e mais tarde de João Paulo II. Aliás, nunca ficou claro porque é que João Paulo II promoveu monsenhor Marcinkus, depois de se saber que este era procurado pela justiça e até estivesse confinado à muralha leonina para evitar a prisão. A morte de João Paulo I nunca plenamente esclarecida e a resignação de Bento XVI, parece não se afastarem desta problemática. O papa Francisco enfrentou com coragem o problema mas, depois de ouvir uma mensagem que ele emitiu à pouco tempo, parece que também vê a sua vida em perigo, embora pareça ser um homem corajoso. Ele afirmou que acha que seu o pontificado será curto, - 4 a 5 anos -, e acrescentou que acha que Deus o escolheu para uma missão muito curta. Poderá dizer tudo ou nada, depende do ângulo como olhamos para a situação. Mas isto são factos que não se podem ignorar, que abalam a confiança da Igreja no seu ponto mais elevado. Esta é a matéria deste livro, com um grupo do 'daesh' pelo meio, - que agora está na berra -, para dar mais ação à narrativa. Um livro muito interessante que tem muito conteúdo escrito, mas também, e sobretudo, um outro tipo de discurso para ser vasculhado nas entrelinhas. Uma obra que pode ser um excelente presente para este Natal. A edição, como habitualmente, é da Gradiva.

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