Turma Formadores Certform 66

Friday, July 14, 2017

14 de julho - Vive la France!

Faz hoje anos que me encontrava em Carcassonne e assisti ao 14 de Julho - dia nacional francês - coisa que aliás nunca presenciei no local onde os festejos são maiores, em Paris. Mas nesse dia de canícula estava em Carcassonne e assisti àquilo que se designa a "muralha a arder", isto é, um monumental fogo de artifício que dá a sensação de que a muralha está a arder. (Existem inclusive postais para turistas com uma vista deste evento em 360º. A imagem que aqui deixo é uma aproximação a essa outra). Carcassonne é uma comuna francesa do departamento de Aude na região do Languedoc-Rossillon. Várias vezes lá estive, e sempre fiz questão de dormir dentro da muralha. Porque sempre achei um local interessante quanto trágico. Carcassonne está situada numa zona onde se desenvolveu o culto dos cátaros. E por isso mesmo, aquelas pedras medievais que pisamos, aquelas parece onde encostamos as mãos, estão prenhes de História, mas também de sangue. Na sua avidez pelos bens - sempre foi assim a História da Humanidade - o rei de França tentou por fim àquilo que justificava como sendo uma heresia. A Igreja - com não menos interesse na matéria - apoiou e ajudou. Estava criado o caldo que haveria de aniquilar muita gente inocente que morria sem ter feito mal a ninguém. Sempre que piso aquelas pedras, tenho a sensação de que por baixo dos meus pés ainda correm rios de sangue, de muitos justos, mas também, de outros que o não eram tanto, vítimas duma certa forma de ambição, tirania e ignorância. As vítimas de Carcassonne são a seu modo um hino a uma certa forma de olhar a diferença com desdém - muito como se vê nos nossos dias - com menosprezo por aqueles que não alinhavam pelo poder instituído. Mas como nem sempre a força resolve tudo, ainda hoje, quem percorrer o Languedoc percebe que aquilo que queriam extirpar, afinal, está bem enraizado. Basta falar com as gentes da região. Gente reservada de início mas que depois de ter confiança nos franqueiam as portas de suas casas. E é lá dentro, na intimidade, que se vêem símbolos de outras devoções que perduram por séculos. Falar de Carcassonne, é falar de Montségur, dos Templários, do culto a Maria Madalena, do Santo Graal. Muitos mitos e lendas, mas também realidades importantes. Mas isto são outras estórias, outros caminhos da História, que aqui não quero trazer porque tornaria este texto muito longo e denso. Mas deixo estas pistas para os interessados pesquisarem, e verão que irão encontrar uma outra França bem diferente daquela que os vossos olhos vos revelam, mesmo nos dias de hoje. No entretanto, aqui deixo uma mensagem de um feliz 14 de julho a todos os meus amigos franceses. Vive la France!

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