Da Educação
Neste tempo que é já de férias escolares para muitos, também é tempo de reflexão sobre o que se fez e o que se vai fazer. A missão do professor é sempre espartilhada pelos programas oficiais, embora a imaginação de alguns consiga tornear algumas coisas mais aberrantes. (Profissão nem sempre acarinhada como deveria ser). Mas a polémica que se tem travado nos media tem a ver com opções políticas que são sempre determinantes nesta como noutras matérias. E as opções políticas desde há décadas, parecem prender-se mais com as estatísticas do que com o real conhecimento dos alunos. Porque os programas são cada vez mais ligeiros, o grau de exigência menor, a aferição de conhecimentos esparsa. (E não me venham falar dos países nórdicos porque anda por aí muita gente a falar do que não sabe, nem nunca esteve nesses países e não conhece a realidade). Esta degradação de conhecimentos não é recente. Já aqui trouxe casos que conheci diretamente, como aquele, dum jovem que fez o seu estágio profissional comigo há cerca de 30 anos. Apesar de aparentemente ser um excelente aluno, as lacunas eram tais que nem uma circular era capaz de fazer. (Cumpre informar que era um jovem com formação universitária muito elaborada). Ainda há dias me cruzei com um colega mais jovem, - quadro superior dum banco -, que me dizia que, tinha dificuldade em entender como era possível jovens quadros chegarem à banca com tão parcos conhecimentos. O mesmo ele verificava nas empresas com quem tinha que negociar. E não pensem que é exagero. Já falei de casos de jovens quadros superiores da banca e de grandes empresas a quem, volta e meia, dou formação, e do desconhecimento que têm das suas próprias matérias da especialidade. Porque se falarmos de cultura geral, então é o desastre completo. Culpa da escola pública? Certamente, mas não só. A escola privada tem aqui um papel que também não foge a esta guerra. Porque hoje os colégios têm autonomia para conferir graduações - que no meu tempo não tinham - o que leva a alguns encararem o ensino duma forma mercantilista. Eu fui educado num colégio - e disso muito me orgulho - mas nessa época, os colégios não tinham nenhuma autonomia. Independentemente de tirar a nota máxima às disciplinas, era sempre obrigado a fazer exames nacionais na escola oficial. (Curiosamente, quando entravamos no colégio, logo nos era dito que tínhamos que estudar mais do que os outros. Porque quando íamos à escola oficial, eram mais exigentes connosco, visto o ensino particular ser olhado como elitista. O que era um puro engano e disso eu sou o melhor exemplo). Só que o facilitismo com que as coisas correm não é bom e o país pagará grossa fatura lá mais à frente. A eliminação da exigência é nefasta mas também perversa. Porque um atleta de alta competição, só atinge esse nível a competir e não só a treinar. As equipas de futebol, não é só a fazer as peladinhas no relvados que são campeãs. Elas têm que competir para atingir o nível que delas se espera. E no ensino é igual. Com os facilitismos que são visíveis, com as avaliações nacionais esparsas, acabam por levar os alunos a um certo distendimento que não é bom para eles. Enquanto escrevia estas linhas, veio-me à memória um caso que ontem me chegou. Um jovem casal viu o seu filho passar para o 9º ano mas, como pais bem formados que são, sabiam que o seu filho estava longe de estar preparado. Se por um lado, ficaram contentes, como todos os pais, por outro lado, perceberam que se está a criar uma montanha enorme à sua volta que, mais cedo ou mais tarde, vai cair sobre ele como uma avalancha. Ao que parece uma das professoras olhou para o lado, enquanto lhe subia a nota, por uma razão bem prosaica, é que a turma é de quadro de honra e não seria de bom tom que existisse um aluno a reprovar. Coisas estranhas que se passam nesta nossa política de educação - ou de ausência dela - que é fruto de sucessivos governos desde à décadas. Ao que julgo saber, algumas destas questões estão a ser equacionadas ao nível do ministério da tutela, mas ainda não do conhecimento geral. Mas é urgente fazer algo. Portugal está a cair numa situação muito curiosa. É um país que aumentou o seu nível de escolaridade, mas esta é inversamente proporcional ao nível de conhecimentos. A assim continuar, o nosso país estará a hipotecar o seu futuro a breve trecho. Daí a necessidade urgente duma reforma educativa que, parece estar a ser equacionada, mas que ainda não viu a luz do dia. E, como todos sabemos, as coisas entre nós são muito lentas. E quanto mais lentas mais estilhaços provocarão no futuro.
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