Turma Formadores Certform 66

Saturday, August 26, 2017

Vilar de Mouros - Um festival de memórias

Está a decorrer o festival de Vilar de Mouros. E vêem-me à memória recordações dum tempo outro, perdido algures na minha imberbe juventude, já tão longínqua. E é a este festival que teve lugar em 1971 que me quero referir. Para muitos o primeiro, mas de facto, era o terceiro, o primeiro teve lugar em 1965. E foi importante para mim porque foi uma espécie de emancipação. Contava então 15 anos, -  já bem a caminho dos 16 -, que para lá fui com os meus amigos. Nessa época a música gravada demorava a chegar ao nosso país. As novidades quando cá apareciam já estavam mais do que ultrapassadas nos seus países de origem. E nesse festival vinham artistas importantes da época que inebriavam qualquer jovem desse tempo. Desde logo o famoso Elton John, que ainda hoje anda por aí a dar cartas, e os Manfred Mann. Artistas míticos que eram um sinal de mudança que era abafada pelo autoritarismo vigente no nosso país nessa época. Lembro-me que havia mais polícia política espalhada pelo recinto do que jovens a ver o festival. Sempre o medo que as ditaduras têm de serem postas em causa mesmo em manifestações de cariz mais juvenil. Foi o tempo dos banhos nus no rio Minho, (nudismo que depois viria a praticar por cá e, sobretudo, no estrangeiro onde as barreiras morais eram bem menores e o espírito de tolerância quase total). Mas esses eram pequenos gestos de rebeldia duma juventude que olhava para o mundo com olhos de deslumbre. Mais tarde vim a aprofundar o conceito com as inúmeras viagens que fiz pelo mundo onde constatei que, se estava certo face a certos países, havia outros que não era bem assim e que representaram para mim uma tremenda deceção. Este festival apenas veio avivar memórias já cobertas pela poeira do tempo. Nem sequer sei qual o cartaz deste ano e, muito provavelmente, nem conheceria a maioria dos artistas que por lá estão a passar. Mas nessa altura tudo era bem diferente. Era uma certa sensação de liberdade, mesmo que condicionada, num país em que o simples facto de pronunciar essa palavra já era considerado um delito. Depois da atitude rebelde da juventude norte americana face à guerra do Vietnam que viria a organizar o mítico festival de Woodstock em 69, os jovens portugueses de então quiseram imitar-lhes a condição. Assim, este festival de 71 passou a chamar-se de Woodstock português. Muita coisa mudou entretanto. O país mudou. Nós também mudamos. Todos fomos envelhecendo e passamos a olhar o mundo com outros olhos. Mas as memórias, essas ficam para sempre.

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