Memórias natalícias - III
Neste aproximar da época natalícia acabei por sentir necessidade de mergulhar em algumas das minhas memórias já longínquas que aqui quero compartilhar convosco. Fruto, naturalmente, da retirada desses objetos para as decorações de Natal que já começaram na minha casa. E aqui vos quero trazer uma peça, - de longe a mais antiga que tenho -, entre algumas que este ano não foram desempacotadas por opção da decoração escolhida. É esta gaiola com um papagaio dentro. Esta peça tem muitos mais anos do que aqueles que já conto. Era uma peça da minha mãe, ainda eu não tinha nascido, feita em plástico, num plástico ainda grosseiro como o era o desse tempo, bem longe das opções atuais. Era dos primórdios desse novo material que então começava a fazer o seu percurso. Hoje, já um tanto ou quanto desengonçada, ela ainda continua a resistir ao tempo, às muitas vezes que saiu da sua caixa para as decorações de muitos Natais, mas também, às muitas brincadeiras que fiz com ela, em tempos de meninice. Também, como todas as outras anteriores que aqui vos trouxe, está no meu local de trabalho. É uma peça que me remete para um Natal longínquo, de memórias por vezes, um pouco esbatidas pelos anos que medeiam. Mas se ela representa todos os Natais da minha vida, - e é das poucas que posso dizer isto -, ela também me remete para a memória veneranda da minha mãe, quando ela fazia a árvore de Natal, (era sempre ela a fazê-la), e pela candura dos gestos, pelo cuidado que punha ao pegar e colocar as decorações - nessa altura eram de vidro muito fino e partiam-se com facilidade - e, sobretudo, no lugar de destaque que dava a esta gaiola. Talvez ela lhe trouxesse também algumas recordações, tal qual o que está a acontecer comigo. Assim, este simples objeto em plástico grosseiro, faz a ponte entre gerações diferentes, entre tempos e espaços diferentes, entre conceitos diferentes. Mas isso também me faz olhar para este objeto com a candura das memórias que encerra e que me são tão queridas. Afinal, um objeto simples, mas que transporta em si tanto simbolismo. Seguramente um dos mais antigos que possuo e que passou duma geração para outra, e que é tratado com o mesmo carinho com que o foi noutro tempo, manuseado por outras mãos, com esse fim último de celebrar o Natal.
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