O fim da matilha de Rio Tinto
Finalmente! A matilha de Rio Tinto chegou ao fim. Conheci esta matilha vai para 17 anos quando trabalhava nesse local. Foi-me pedido por duas colaboradores da empresa que então iam embora, para continuar o seu legado de alimentar os cães errantes que por lá andavam. Assumi o encargo com gosto. E durante estes últimos 17 anos fui-me ocupando deles. Em determinada altura chegaram a ser cerca de três dezenas. As ninhadas repetiam-se e o controle era difícil. E eu estava completamente sozinho. Há cerca de 8 anos, e por insistência de amigos, abri um espaço no Facebook com o intuito de publicitar a matilha. Mas não aconteceu nada. E o que aconteceu não me agradou. A breve trecho me vi enredado em conluios, que não são a minha maneira de estar, e que me começaram a incomodar. Mas continuei. Porque o compromisso assumido falava mais alto e o bem estar possível dos animais ainda mais. Também tentei aprender com esta nova 'experiência' de quem poderia saber mais do que eu. Mas em breve percebi que não seria fácil. Aprendi uma coisa que me ficará para a vida. É que há os 'amigos dos animais' e há os 'amigos dos NIB's'. Houve até quem me dissesse que o importante era 'colocar apelos dramáticos e um NIB que o dinheiro logo ia pingar' (sic). E por mais que me custe, parece que é mesmo assim. (Por mais que torturem as palavras e/ou as frases elas dirão sempre o mesmo. Porque esta é a triste realidade por vezes travestida de piedade onde não há lugar para ela). Nunca aderi a NIB's, nem nunca pedi nada a ninguém. E tive essa possibilidade porque tive ofertas de muita gente em Portugal e muita gente do estrangeiro. (Aqui queria deixar um profundo agradecimento à Ing-Britt Henriken - e nela personificar todos os outros que aqui não cito - que da Suécia muitas vezes me incentivou a aceitar os seus donativos. Também não quero, nem posso, esquecer aqueles que por cá, se me juntaram e fizeram caminho nestes últimos anos, caso do Bruno Alves Ferreira e da Paula Maia, não esquecendo outros antigos colegas de trabalho que tentaram, dentro do que podiam, ajudar esta matilha ao longo dos anos). Nunca aceitei esse dinheiro que vinha. Porque sempre achei que fazer caridade com dinheiro alheio e vangloriar-me da 'obra feita' era demasiado pobre e redutor para a minha mentalidade. (Embora compreenda quem o faça, sobretudo, aqueles que têm à sua guarda um número elevado de animais. Mas só em situações dessas. Extremas). E por lá andei. Cruzando a noite muitas vezes, debaixo de chuva intensa, temporais enormes, trovoadas assustadoras, a tentar ajudar esse pobres animais. No caminho ainda distribuía apoio a outros, - quais companheiros de infortúnio -, que comigo se cruzavam. Durante estes 17 anos vi muita coisa quase sempre desagradável. Vi o ser humano no seu pior. Desumanizado, brutalizado, sem piedade para com os que não têm voz. Vi demasiado para não ter ficado indiferente. Passado este tempo, seguramente que não sou o mesmo homem. Mas penso que serei um homem melhor. Porque a piedade pelo outro - mesmo e, acima de tudo, sendo o outro um animal indefeso - molda muito do nosso coração, do nosso caráter. Vi cães que foram 'adotados' - nem sempre bem -, vi animais que foram sacrificados - muitos e de forma sádica -, vi animais que desapareceram sem deixar rasto - ainda hoje sem saber se estão em sofrimento ou não. Isto tudo não deixa um homem indiferente. De todo. O Repinhas era um membro desse grupo. Agora adotado era o último abencerragem da matilha. Finalmente está em segurança com a expectativa de ter um final de vida digno. Vi-o nascer. Acompanhei-o sempre. Nunca o pude adotar dado o número de cães que tinha. Tentei sempre ajudá-lo a encontrar uma família, mas em vão. Mas nunca desisti. Silenciosamente fui tentando. Já não acreditava no Facebook, - espaço mais de interesses, nem sempre nobres, na ajuda a animais -, mas continuei. E, curiosamente, acabou por ser no Facebook que encontrei a resposta. A vida por vezes tem destas ironias. Porque há anjos que andam por aí. E eu há muito que tenho um que admiro sobremaneira. Trata-se duma grande amiga, bragantina de nascimento, de seu nome Margarida Ferreira. A Margarida é um exemplo que muitos 'amigos dos animais' deveriam seguir. A sua obra é avassaladora ao ponto de despertar a curiosidade dos media. De jornais regionais, a jornais nacionais, até às televisões, ninguém ficou indiferente à obra desta grande Mulher. (E não pensem que estou a dizer isto apenas pela situação do Repinhas. Muitos de vós sabem - e a própria Margarida o sabe - que muitas vezes neste e noutros espaços lhe teci grandes elogios. Sinceros, do coração. Porque há seres que pela sua dimensão estão muito acima dos demais. A Margarida é uma dessas pessoas). A Margarida vinha seguindo à muito as mensagens que aqui colocava. Foi percebendo o meu problema e a maneira sofrida como eu tentava encontrar uma solução que tardava em aparecer. Até que, face à radicalização da situação do Repinhas, a Margarida apareceu decidida. Trocamos mensagens. Conversamos sobre a situação. E, tal como eu, o seu coração também foi tocado. Hoje o Repinhas está em Bragança ao seu cuidado, indo depois para a quinta de uma sua amiga onde ele acabará os seus dias, com espaço, liberdade e, sobretudo, dignidade. (Tal como a própria Margarida me assegurou). Aquela que nunca teve, que sempre lhe foi negada e que agora adquiriu. Quero aqui deixar um forte e público agradecimento à Margarida. Porque ela é uma das melhores dentre nós, que apoiamos a causa animal. Ela merece todo o nosso apoio. O nosso carinho. A nossa solidariedade. A Margarida é um exemplo, quando neste meio, tão maus exemplos se vêem. E assim, pela mão da Margarida, chega ao fim a chamada matilha de Rio Tinto. E da melhor maneira. Porque um anjo (animal) encontrou outro (humano) e quando assim é, o Paraíso deve alegrar-se e tocar trombetas. Parafraseando Sheakspeare: 'All's Well That Ends Well'. Quanto a mim, continuarei por aí a tentar cuidar destes pobres infelizes. Silenciosamente. Longe dos palcos de que não necessito. Porque quero apenas o bem dos animais e não uma auto promoção pessoal. Não preciso dela, definitivamente. Há sempre um verso em branco para completar um poema. E é esse verso que quero escrever. Eu. Só eu. Sem intermediários de nenhuma espécie.
P.S.: Deixo-vos aqui a última foto que tirei ao Repinhas no passado domingo, dia 26 do corrente. ele sempre me esperava e, era na rua, que o alimentava porque já à muito que raramente ia ao abrigo.
P.S.: Deixo-vos aqui a última foto que tirei ao Repinhas no passado domingo, dia 26 do corrente. ele sempre me esperava e, era na rua, que o alimentava porque já à muito que raramente ia ao abrigo.
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