"La Route de l'Esclavage" - Jordi Savall
Há umas semanas atrás trouxe aqui um disco muito interessante de Jordi Savall que contava a história da cidade de Veneza. Hoje trago-vos outro que abarca o 'período mais negro da Humanidade' para citar a feliz expressão do músico catalão. Tenta ir do período em que o esclavagismo começou até à sua abolição, numa jornada com momentos lúdicos e outros bem tristes. "La Route de l'Esclavage" (A rota da escravatura) é o título deste trabalho de Jordi Savall acompanhado dum excelente livro em vários idiomas a explicar este período tão sombrio da Humanidade. Este magnífico trabalho é uma homenagem à memória das vítimas do tráfico de escravos. Este novo projeto multicultural de Jordi Savall e seus músicos sobre "The Routes of Slavery (1444-1888)" marca um primeiro momento na história da música e dos três continentes envolvidos no comércio de escravos africanos e a sua exploração no Novo Mundo, que são reunidos através da música antiga do período colonial, das tradições musicais do Mali e das tradições orais dos descendentes de escravos em Madagáscar, Brasil, Colômbia e México. Esta "Memória Musical" é acompanhada de textos históricos sobre a escravidão, começando com as primeiras crónicas de 1444 e concluindo com textos escritos pelo Prémio Nobel da Paz, Martin Luther King pouco antes de seu assassinato em 1968. Patrocinado pela UNESCO, essa reconciliação musical é fundada na igualdade, harmonia e inspiração recíproca, constituindo a comemoração de um capítulo trágico e vergonhoso na história da Humanidade. Um grande fresco histórico e musical, que ilumina a atitude do Ocidente em relação aos africanos na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa, bem como a sua indiferença em relação ao continente "esquecido" da África. Mas também é uma celebração alegre de corações e espíritos unidos através da música e da dança, oferecendo-nos a todos uma fonte vital de sobrevivência, um refúgio de paz, consolo e esperança. 2 híbridos SACD + 1 DVD filmados ao vivo na Abadie Fontfroide (França). É acompanhado por um belo e elucidativo texto em várias línguas: inglês, francês, alemão, italiano, castelhano, catalão. Participam Kassé Mady Diabaté e Violet Diallo (Mali) e Jordi Savall (viola da gamba e diretor artístico ) Hespèrion XXI - La Capella Reial de Catalunya & Tembembe Ensamble Continuo. Confesso que me senti incomodado quando logo a abrir a obra se fala de Portugal. Das rotas esclavagistas abertas pelos portugueses, do rapto destes em África, do desembarque deles nas praias do Algarve. Tudo demasiado feio para que possamos ficar indiferentes. Com certeza que não fomos só nós que o fizemos, todas as outras potências coloniais da época dele se serviram. Mas isso não significa o incómodo que sentimos. Uma obra a merecer a vossa melhor atenção. Recomendável e imprescindível.
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