Lá vem a Inês!
Ontem, a minha afilhada Inês voltou a minha casa. Vem cá com frequência, embora sem aquela frequência com que gostaríamos de a ver por cá, mas é compreensível que assim seja, porque tem muita família a quem também tem que dedicar atenção e alegrar os dias. A Inês sempre se sentiu bem em nossa casa, com aquela alegria contagiante, com a atenção desvelada com que nos mima, sempre na expectativa de agradar. Não aquele agradar de quem espera algo em troca, mas o agradar apenas e só na pureza do seu sentimento de criança ainda não afetada pelos interesses do mundo exterior. O amor é o sentimento mais puro que tem para connosco e exibi-o duma forma sentida, despudorada, sincera. Quando ela chega a nossa casa, é como se a felicidade a acompanhasse. Sempre alegre e prazenteira, a Inês lá nos vai incitando a participar das suas brincadeiras. A que o nosso Nicolau não escapa embora agora, mais velho e doente, já seja bem diferente doutros tempos. Ela é a professora exigente com os seus alunos, que somos nós; por vezes, é a cabeleireira e nós somos os clientes e modelos; ou é a patroa da mercearia de bairro e nós os fregueses; ou a cozinheira com o seu restaurante a quem ela dá toda a atenção aos seus comensais a quem serve com desvelo. Seja de que maneira for, a Inês arranja sempre uma brincadeira fazendo com que nós participemos da mesma. Agora já com mais atenção ao pormenor porque a idade vai avançando, mas sempre com aquele ritual de criança que ainda é embora a caminho da sua natural juventude mais madura. Mas o importante é a maneira como ela trás para a nossa casa, essa felicidade, esse amor, essa luz que tanto nos enternece. A Inês, esse belo ser de luz, toca-nos com esses feixes que dela irradiam, aquecem os nossos corações que já vão mostrando o desgaste da vida, fazendo-o com aquele carinho tão amável e fino que tem. Hoje mais crescida, com a evolução académica a começar a tocá-la, faz com que a Inês comece a construir as suas fantasias com uma auréola de realidade, onde a atenção para com os seus padrinhos é imensa. Ontem foi mais um desses dias, como tem acontecido ao longo destes já seis anos que transporta em si. Quis almoçar cá em casa e como foi bonito vê-la a comer já com um ar aprumado, a manter uma conversa que ela pretende que seja mais elevada e, no fim, um certo agradecimento por estar aqui connosco na ajuda que dá ao participar nas tarefas domésticas. Uma criança adorável como todas as crianças são. Mas, desculpem-me a imodéstia, a Inês assume aos nossos olhos esse outro lado mais próximo que tanto amor faz evidenciar. Pode parecer estranho que, vindo a Inês cá a casa com alguma regularidade, tenha decidido escrever sobre isso. Já não o fazia há muito tempo. Mas ontem foi um daqueles dias interessantes em que a Inês parece já indo a acomodar alguns gestos e sentimentos bem mais próximos duma idade superior àquela que tem. A Inês cada vez mais bela, vai assumindo a designação pela qual a tratei durante alguns anos, a de ser a mais bela flor do meu jardim de outono. Agora que o inverno começa a ocupar o seu espaço natural no nosso jardim da vida e que lhe é devido, a Inês tenta contrariar isso com a luz que irradia, que simultaneamente ilumina o nosso caminho e aquece os nossos corações. Há dias assim, em que somos tocados pela felicidade sempre pela mão duma criança, como não poderia deixar de ser, onde a inocência e a pureza ainda vão escrevendo o seu futuro.
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