A balbúrdia de Monchique
Depois de ontem me ter debruçado sobre o que se está a passar em Monchique, retomo hoje o tema. Porque parece que estamos a assistir a um qualquer filme que se não fosse trágico seria no mínimo cómico. Embora de manhã as coisas parecessem controladas, já se sabia que à tarde tudo seria diferente. A ANPC já o tinha afirmado. Mas tudo ficou à espera. O fogo evolui e esteve às portas de Silves, mais concretamente a aldeia de Enxerim. E é aqui que me quero focar. Quem assistiu às imagens televisivas tudo aquilo era a prova cabal da desorganização. Contrariando o óbvio, primeiro chegam as forças de segurança que tentam tirar as pessoas, e quem resiste é quase arrastado das suas casas. Vimos militares a forçar portas, a saltar janelas como se de um filme de ação se tratasse, desrespeitando tudo e todos, e inclusive até chegaram ao ponto de algemarem quem mais resistia, segundo a informação dum vereador da Câmara de Monchique que tal testemunhou. Noutros tempos, a comunhão de esforços entre os bombeiros (voluntários) e as populações era até elogiada. Agora passou a ser crime. Seguramente que os agentes estão ali a cumprir ordens e algum bem gostariam de estar noutro lado, mas há sempre quem exagere, e ontem as imagem televisivas deram uma amostra cabal. Só depois desta 'limpeza' é que chegam os bombeiros - talvez tardiamente - para fazer o trabalho. Tudo isto que se pretende muito coordenado e científico está a transformar-se numa balbúrdia que está a colocar Portugal a ridículo. Basta ver o que se diz por esse mundo fora já para não falar de algum espanhóis que ontem falaram às televisões e a visão que deram do que estavam a constatar. Isto só reforça aquilo que ontem aqui afirmei. Pouca competência, falta de coordenação, uma espécie de salve-se quem poder. Ontem as populações de Enxerim estavam revoltadas com isto tudo, sobretudo com a atuação das forças de segurança, e disso deram testemunho. Depois verificou-se que se as coisas não foram piores tal deveu-se à ação dos populares com os bombeiros, e até antes deles, caso contrário, tudo tinha ardido. (Como alías já tinha acontecido noutras localidades). A revolta das pessoas vai crescendo por tanto amadorismo. Começa a ser quase angustiante quando a temperatura sobe uns graus porque sabemos que vamos assistir a coisas semelhantes. Tudo muito triste e que não enobrece ninguém, quando deveria ser o contrário. A mudança de comando parece que também não ajudou muito. E ao fim de pouco mais de vinte e quatro horas, já a nova coordenadora, Patrícia Gaspar, estava a ser alvo de fortes críticas depois da denuncia de algumas associações de animais que foram impedidas de atuar para salvar os inúmeros animais em sofrimento. Depois de ter visto que as redes sociais se tinham erguida num forte protesto, logo veio alterar a decisão, e aquilo que era impossível, passou a ser possível, até com o apoio de um agente da Proteção Civil a acompanhar veterinários e membros das associações de animais. Esta senhora terá afirmado que os animais não seriam prioritários! Lamentável a afirmação e que deve merecer uma resposta adequada dos protetores de animais. Parece que ela ainda vive no século passado onde os direitos dos animais não existiam e aqueles que os defendiam eram pouco mais que gente exótica para não dizer outra coisa. Mas os tempos mudaram embora Patrícia Gaspar parece que não. Isto mostra bem toda a fragilidade em lidar com as situações extremas que ontem aqui denunciei e que hoje reforço. Depois de tantos meios, homens, coordenadores e quejandos, o fogo vai continuando imparável. Como ontem dizia alguém, só uma chuva acabará com isto. O que mostra bem a ideia que as pessoas têm de quem as tenta proteger. Esta tragicomédia está a ir longe demais, e parece que ninguém quer assumir seja o que for. Escudam-se atrás do vento, da orografia do terreno e outros coisas do género - como ontem bem lembrava uma jornalista dum canal de televisão - e não assumindo a sua fragilidade, quiçá incompetência, para resolver o caso. Tudo muito triste e lamentável.
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