Na encruzilhada
Tenho andado um pouco confuso com esta situação que me aconteceu do aparecimento da Rosita em minha casa. Se por um lado me senti um privilegiado por ter um animal que se esforçou muito por mostrar que nos tinha adotado, por outro, causa-me alguma preocupação. Desde logo porque não a posso ter dentro de casa. Ela anda em liberdade por aqui e por ali, vem para estar um pouco connosco ou para comer. Ela sabe que tem sempre comida à disposição, mais umas guloseimas ao início da manhã e ao fim da tarde agora reforçada com paté a preceito. Para além disso, tem a sua cama onde dormir, devidamente abrigada. Mas por mais que faça, fico sempre com a sensação de que fiz pouco. Porque o inverno vem aí não tarda nada com o cortejo de frio, chuva, vento, e aquele pobre ser ali está, só, afastado do aconchego duma casa. Sei que os gatos são muito independentes e talvez ela até prefira assim porque tem a liberdade de andar por onde lhe apraz, e para além disso, tem o seu amigo que quase sempre a acompanha, e talvez essa seja a melhor situação para ela. (Não há o perigo de ninhadas porque ela está castrada). Mas mesmo assim, isto é motivo para me sentir angustiado por não puder fazer melhor, visto o Nicolau não dar tréguas nesta batalha. Contudo, e mesmo que ele não existisse, não sei o que faria. Por variadas vezes aqui afirmei que não queria mais animais - longe de saber o que me estava para acontecer - porque a idade vai passando e algo que sempre me angustiou foi pensar que um dia não estarei aqui e que deixarei um animal para trás com todos os hábitos que uma situação de grande proximidade sempre implica e que o fará sofrer face à sua incompreensão de mudança de situação. Ainda me recordo de quando o meu pai morreu, termos um cão que sempre andava com ele. Depois da morte, substituiu o meu pai por mim, mas nunca mais foi o mesmo, vindo a morrer um ano depois. E ele sempre teve os mesmos cuidados, os mesmos mimos, porque vivia com as mesmas pessoas, na mesma casa, no mesmo ambiente. Mas para ele foi diferente. Agora imaginem o que é um animal passar para outra mão - por melhor que seja tratado -, ou, na pior das hipóteses, ser deixado num canil ou gatil, ou até descartado numa qualquer rua. Tudo isto me trás confuso e apreensivo sem saber bem o que fazer e como agir. (Embora para já, a solução que existe é esta e não pode ser alterada). Há uma ternura e amor pelos animais que tenho desde criança que me impele numa certa direção, mas há também, um certo sexto sentido que me indica um caminho diferente, apenas e só, para que o animal não sofra mais. (Afinal é o supremo interesse do animal que aqui está em causa). É neste paradoxo, nesta encruzilhada, que me encontro. Qualquer das soluções nunca me satisfaria e é isso que me trás angustiado.
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