Charles Aznavour (22 de maio de 1924 - 1 de outubro de 2018)
Hoje, Dia Mundial da Música, seria um dia para celebrar toda a música independentemente dos seus géneros. Seria um dia de alegria, mas não o é inteiramente. Hoje também é um dia triste porque desapareceu um dos grandes nomes da 'chanson', Charles Aznavour. Tudo já foi dito sobre este grande cantor, - emigrante arménio -, que viria a formatar a música francesa. Foi através da Aznavour que, ainda muito jovem, vim a criar um certo gosto pela música de França. Minha mãe era uma sua admiradora, e em casa era frequente ouvir-se Aznavour. (Curiosamente, Aznvour nasceu no mesmo dia, no mesmo mês e no mesmo ano de minha mãe!). E uma das canções que mais me marcaram, talvez porque fosse aquela que mais a rádio passava então, chama-se 'La Bohème'. Muitos anos mais tarde, já com outros gostos musicais a marcarem a minha geração, reencontrei-me com esta bela canção, agora na sua terra natal, França, e na cidade que o eternizou, Paris. Quantas vezes a escutei cantada por tantos músicos de rua, ali numa outra Paris quase parada no tempo, como são as gentes que habitam a colina de Montmartre. Muitos desses artistas me diziam que se reviam nessa música como uma espécie de hino das suas próprias vidas, eles também artistas, eles também boémios, num recanto duma Paris mais distante dos símbolos das luzes. E a canção por ali andava, de dia nas ruas, de noite, nos muitos bares onde uma certa boémia se reunia, bem digna dos quadros de Toulouse Lautrec. Mas muitas outras Aznavor nos deixou que enchiam o éter das estações de rádio que não estavam quase exclusivamente dedicadas aos sons anglo-saxónicos como hoje em dia. Mas quero aqui recordar uma das muitas canções de Aznavour que marcaram a minha vida, sem que eu saiba bem porquê. Trata-se de 'Que c'est triste Venise' (que podem escutar aqui https://vimeo.com/292739229 ) que, talvez pelo seu lado mais nostálgico e triste, se aproximar do meu carácter, acabou por fixar-se e perdurar no tempo. Ainda hoje escuto essa canção que conheceu a luz do dia nos idos de 1964 do século passado, e sempre que a ouço, aquela nostalgia vai aparecendo. Antes era a nostalgia duma certa forma de meninice, depois, - quando a idade começou a avançar -, duma certa juventude já passada, da memória daqueles que preencheram a nossa vida e já à muito partiram. A idade e o percurso de vida vão formatando as nossas memórias e a perceção que temos dela. Mas essa música ficou como uma espécie de banda sonora da minha existência. Quero aqui partilhá-la convosco porque ela tem muito de mim e daquilo que busquei durante anos na chamada 'chanson'. Aznavour, que hoje nos deixou, acaba por ser um elo de ligação de algumas pontas soltas da minha vida. A memória de minha mãe que adorava as suas canções, e a nostalgia duma vida que percorro que, dia após dia, se vai gastando no tempo. Como percebem, Aznavour para mim era mais do que um cantor francês, era algo de pessoal, quase íntimo, que entrava e permanecia na minha casa desde a minha infância. Quanto mais não seja por isso, espero que estejas em paz, Charles! Afinal, hoje é o Dia Mundial da Música e talvez esta seja uma forma de a celebrar. O homem parte mas a obra fica para ser (re)descoberta. Neste dia uma parte das minhas memórias mais fundas te veneram, Charles Aznavour!
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