Turma Formadores Certform 66

Monday, October 22, 2018

(In)Gratidão

Por vezes dou por mim a fazer umas elucubrações filosóficas a propósito de tudo e de nada. E, talvez por ser início de semana, a elas volto. Como já várias vezes aqui fiz referência, sempre achei que a gratidão, a par de outras, - como a educação, por exemplo -, devem fazer parte do nosso léxico diário. A gratidão é talvez uma das mais importantes, porque pressupõe não só algo que tem a ver connosco, mas também, algo que tem a ver com o outro que, duma forma ou de outra, nos marcou. E dou comigo a refletir sobre isto porque acho que o ser grato, mesmo face a um gesto insignificante e por ventura menor, é algo que devemos assumir na nossa vida. Incomoda-me que pessoas que beneficiaram de algum modo, da boa vontade de outrém, acabem por descartar essas mesmas pessoas como se o simples facto de as conhecerem já seja algum pecado capital. E então quando essas pessoas partem em definitivo, ainda o silêncio se torna mais ensurdecedor. Bem sei que nem todos terão a sensibilidade apurada para estas coisas, mas também sei que há muitos que olham para o lado porque, afinal, já nada há a esperar daquela pessoa e portanto ela passou a ser um estorvo. Sempre achei que este tipo de atitude era simplista, (para não dizer até canalha), mas também tenho que compreender que, felizmente ou não, nem todos comemos do mesmo prato. E em tudo na vida, sempre tive por lema que embora sejamos todos iguais, há sempre uns mais iguais do que outros. Não tomem esta asserção por elitista ou outra coisa menos prosaica, mas as coisas são assim mesmo. O ignorar uma pessoa que em tempos nos fez bem como se dela não tivéssemos sinal é algo muito feio. Um amigo meu costuma dizer que quando se nasce canalha, vive-se canalha e morre-se canalha. Eu não levo as coisas assim, porque isso seria negar a evolução do ser dito humano, embora a História nos mostre que a sua evolução, - quando se dá -, é normalmente muito lenta. Mesmo assim, espero que com a latitude que dou à lentidão evolutiva, ainda vá a tempo de ver o ser dito humano grato a quem lhe faz bem. Porque a gratidão é uma virtude na minha modesta opinião, e o seu contrário, é-o na mesma medida mas em sentido oposto. Não tenho por hábito na minha vida fechar a porta à remissão ou a atos de contrição, embora cada vez mais vou percebendo que são gestos que cada vez menos se usam e isso não é tão nobre assim. Por mim, sempre estou grato ao mundo que me cerca, mesmo quando ele foi mais agreste para mim, porque era a maneira de a vida me ensinar, talvez duma forma mais  veemente, a este aluno tão pouco capaz. Mas mesmo com as limitações de cada um, se tivermos o sentido de gratidão face ao outro, acho que já demos um grande passo na nossa evolução como pessoas, como seres universais, para que a caminhada da vida se torne mais leve e a sua aprendizagem profícua.

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