Turma Formadores Certform 66

Tuesday, December 11, 2018

Pela boca morre o peixe (ou a má educação da minha afilhada Inês)

Há um par de anos atrás, o local onde habito era preenchido por pessoas de baixa condição, gente simples e modesta, com baixa escolaridade ou até mesmo analfabetos. Quando aqui cheguei com cerca de 10 anos tive aquele que seria o meu primeiro choque cultural porque ignorava que houvesse pessoas assim. Tudo era novo para uma criança que vinha dum outro meio e dum outro ambiente. O primeiro de muitos outros com que a vida me tem presenteado. O ser simples e modesto não é uma estigma, bem pelo contrário, e não é sinónimo de má educação. Contudo, aqui as duas - a pobreza e a má educação - conjugavam-se na perfeição o que levava a que um qualquer incauto achasse que uma não era separada da outra. Nada mais errado. As crianças eram 'educadas' (as aspas têm razão de ser e já verão porquê) a desde tenra idade pronunciarem o vernáculo mais torpe e reles que se pode imaginar, e os pais ou afins, até achavam 'as crianças muito espertas porque diziam os palavrões todos e duma forma clara'. (Pronunciavam melhor os palavrões  do que dizerem pai e mãe coisa que por vezes só mais tarde aprenderiam). Sempre me meteu muita confusão porque tudo isso estava nos antípodas do mundo donde vim e da educação que me foi dada. Mas era assim e com isso tinha que conviver. Deixo aqui um caso que conheci de perto, duma senhora que educou assim os seus filhos e netos, e mais tarde, espancava-os dizendo que 'ela falava mal mas os netos não o poderiam fazer'. Como se uma criança percebesse o que isto significava. Mas enfim, eram assim estes tempos dos quais não guardo qualquer saudade. Mais tarde, ou porque muita gente se mudou, sobretudo os mais novos; os mais velho foram morrendo, levou a que as coisas se fossem alterando para melhor duma forma talvez lenta mas firme. Pensei que nunca mais voltaria a ver situações idênticas mas enganei-me. Os mais jovens são mais liberais na sua educação - ou melhor, na falta dela - e os seus progenitores nem sequer lhe podem fazer reparo porque a educação primordial que começa na família é essa, e portanto, eles apenas são o espelho, o reflexo se preferirem, daquilo que é a sua vivência intra muros. Os progenitores, já com uma educação diferente para melhor do que aquela que os seus pais tiveram, - ou pelos menos assim deveria ser -, não fazem jus disso mesmo e caem com facilidade na boçalidade mais torpe. Daí o ciclo não se quebrar antes potenciando-se duma forma mais refinada com a mesma funesta consequência. Quando isso toca pessoas que me são mais próximas, confesso que me sinto tão incomodado como no tempo de antanho, diria até que mais incomodado, porque esta geração tem acesso a instrução que os seus antepassados não tiveram o que agrava sobre maneira a situação do meu modesto ponto de vista. E, como se já não fosse suficiente, quando tentamos corrigir a situação, e eles ainda fazem pior porque estão formatados para a irreverência, mas que também colhe o apoio dos seus maiores que, de certo modo, se sentem atingidos também. O que até compreendo, mas acho que as gerações mais velhas querem sempre que a geração mais nova seja melhor do que eles o que parece aqui não ser o caso. Entre a 'práxis' e a intenção há um oceano a separá-las. Como diz o jargão popular 'pela boca morre o peixe' parece aqui ter toda a sua aplicação. Porque pensei que não veria na geração mais jovem coisas que vi em tempos idos, numa altura em que a ignorância campeava em toda a linha, mas enganei-me. Afinal esta nova geração, dispondo de ferramentas que os seus antepassados nem sonhavam, seguem os mesmos passos, o que os colocam ainda mais baixo do que os mais velhos, exatamente porque dispõem duma panóplia de informação e de conhecimentos que os deveriam colocar num patamar bem diferente. Sinal dos tempos, talvez, - todos os tempos têm os seus sinais -, mas seguramente sinal de que continuamos tão atrasados como dantes. É pena que assim seja e contra isso estarei sempre do outro lado da barreira. seja contra quem for, ou seja pelo que for. A educação é um dos baluartes maiores para uma caminhada firme na vida, coisa que continua rara como em tempos pretéritos.

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