A caminho da Páscoa
Caminhamos de novo em direção à Páscoa, a festa maior da liturgia católica. Aquela que dá o ser à crença cristã duma Vida para além da morte, mas também, o da Ressurreição. É um tempo tradicional de meditação e de reflexão, sobretudo nesta Semana Santa. Confesso que vivo este período com alguma intensidade, desde logo pela crença religiosa, mas também pelas memórias que ainda retenho da minha já longínqua juventude. Mas é também um período de algum incómodo porque a reflexão por vezes também nos leva por atalhos inopinados ou talvez não. É neste período que são sacrificados inúmeros animais, especialmente cordeiros, numa urgia de sangue, tortura e morte sem par. E isso incomoda-me sobremaneira. Dirão alguns que é o simbolismo pascal do cordeiro sacrificado, exprimindo o sacrifício de Cristo à mão dos seus algozes. Pobre justificação esta. O ser dito humano lança sempre mão de conceitos os mais variados para justificar as suas atitudes predadoras por mais horríveis que sejam. O simbolismo aqui é dum ser dito humano cruel que em nome duma Vida tira outra Vida, num efeito de espelhos que não tem justificação. Confesso que me sinto incomodado quando passo num mercado ou numa dessas lojas que exibem cadáveres de animais abatidos sem dó nem piedade apenas e só para satisfazer a gula de muitos numa comezaina sem par. Não é o simbolismo cristão que aqui está em causa, coisa que muitos nem sequer conhecem e até renegam. É simplesmente o simbolismo da mesa cheia, do ritual que se diz, hipocritamente de tradição, que sacrifica outras Vidas por uns momentos de prazer à mesa. Esta bestialidade é algo que não posso aceitar e que sempre me incomodou. O naco de carne à mesa é o maior desrespeito pela Vida, é uma atitude desumana e saloia de mentes que ainda terão uma longa caminhada para fazer até serem capazes de respeitar a Vida do outro, mesmo que o outro seja um animal indefeso. Dir-me-ão alguns que isto acontece noutras ocasiões e não só na Páscoa. É verdade. Qualquer festarejo imbecil e parolo, não o é sem que exista o cadáver dum animal, ou bocados dele, à mesa. Mas na Páscoa, tal como no Natal, festas que celebram a Vida, este aspeto assume contornos mais chocantes. Ao fim de milhões de anos neste planeta, a dita humanidade parece que não evoluiu assim tanto. Ainda anda à busca dum caminho que não encontra, porque simplesmente não quer, ou porque ainda não atingiu o nível de conhecimento desejado, o que só vem provar a lentidão da evolução do ser dito humano, quando este se acha um ser superior e que não se coibe de sacirficar aquilo que de mais preciso e misterioso existe: a Vida.
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