"Peço a Palavra - Coimbra 1969" - Alberto Martins
Há livros que nos marcam pelo que encerram, mas também por nos trazer momentos dum tempo outro que ainda foi aquele por que passamos. "Peço a Palavra - Coimbra 1969" é um desses livros. Porque fala dum acontecimento que marcou a academia portuguesa e que viria a fazer com que as Universidades nunca mais fossem o que eram antes, tempos que conheci nessa altura ainda não universitário, mas que poucos anos depois viria a engrossar as suas fileiras e a compreender melhor a sua amplitude. Estávamos a 5 anos do 25 de Abril, Salazar já não mandava, e Marcello Caetano era o ditador de serviço. Quis abrir o regime, a famosa 'primavera marcelista' mas que se gurou, mais fruto dos últras' que se lhe oponham, do que da sua vontade. Sou dos que continuo a acreditar que ele tinha até uma séria intenção de abrir o regime, mas não conseguiu controlar a situação. Por tudo isto, este é um livro importante porque encerra muito do que viria a acontecer alguns anos depois, era uma espécie de prenúncio que manteve alguns alerta, mas que escapou a tantos outros. Lê-se na sinopse do livro: "Peço a Palavra, as muitas mil vozes que pediram a palavra, a 17 de Abril de 1969, fizeram deste gesto inicial e simples, breve e longo, um símbolo da memória e revolta. Nele iniciando a liberdade que em Coimbra, por quatro meses, se fez um lugar de ficção real em que verdadeiramente tudo aconteceu e foi violento e duro, e perdura. Mas na encruzilhada daquele tempo, incerto e veloz, esteve também a festa e a felicidade de quem faz o acontecimento (pessoal ou colectivo). Na individualidade que a cada um de nós pertence, com situações e dramas distintos, todos podemos dizer que aquele foi o nosso tempo, e lugar, e estivemos lá. A solidariedade viveu, então, em Coimbra, cercada pela agressão e violência, censória e pidesca, com o espectro de uma guerra colonial, a esconder-se numa incorporação militar compulsiva, feita à medida. A liberdade passou por ali, quebrou os muros da Universidade, foi pela cidade, ecoou pelo país." Sobre o autor, Alberto Martins, era ao tempo o líder da AAC, viria a ser um dos fundadores do MES e mais tarde iria aderir ao PS, vindo a ser deputado e seu líder parlamentar. Chegou a ser ministro do XIV e XVIII Governos Constitucionais. Este é um livro muito interessante para a compreensão dum dos factos mais importantes e que teve mais repercussões nacionais e internacionais nos últimos anos do regime anterior. Um livro que é um documento histórico duma época que merece a nossa atenção com vista a compreender melhor aquilo que a História nos iria mostrar a seguir. A edição é da Verbo.
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