Turma Formadores Certform 66

Friday, January 24, 2020

Em torno do que é corrupção

Fala-se muito de corrupção e temos bastas razões para isso. Mas por vezes fica-se com a sensação de que se chama corrupção a coisas comezinhas que não trazem mal ao mundo. Era prática corrente à um par de anos, que perante uma determinada situação houvesse um agradecimento sob a forma dum presente, normalmente inócuo, como forma de agradecimento. O mesmo se verificando no final do ano, quando o dar um presente pode ser um gesto de simpatia que nada tenha a ver com corrupção. Fruto da minha atividade profissional feita em empresas públicas e privadas, sempre vi gestos desses e nunca tal significou que estivéssemos perante uma qualquer forma de corrupção, com a qual nunca pactuei. Penso que se passa rapidamente do oito para o oitenta coisa que aliás é bem típica da nossa maneira de ser. O agradecer um serviço recebido era uma forma de respeitar a pessoa que o fez, mas hoje a esse simples gesto chama-se corrupção. Claro que isto é sempre questionável e abre linhas de pensamento que poderão até ser contraditórias. Mas esse simples gesto passou a ser mal visto. Deveria sê-lo quando quem presta o serviço insinua que pretende algo em troca, mas quando isso parte da pessoa que o recebeu como forma de agradecimento, pode ser questionável a classificação que se lhe atribui nos nossos dias. Porque assim, em vez de tornarmos as coisas mais transparentes, passamos a rotular tudo e tudo por qualquer coisa. Passamos todos a ser corruptos ou então vivemos num país ideal daqueles que lemos em utopias filosófico-literárias. Para quem conhece e gosta de ler a Bíblia trago aqui uma frase curiosa que se pode ler em Provérbios 18,16 e diz assim: "Os presentes que um homem dá abrem-lhe caminho e dão-lhe acesso junto dos grandes." O que significa que a olharmos com os olhos mais recentes, a corrupção é algo tão ancestral quanto o ser humano, talvez mesmo mais antigo do que a invenção da palavra. Seja como for, acho que a ponderação sobre determinadas situações que por vezes vemos por aí, caem mais na rigidez típica dum Código de Hamurabi dos dias que são os nossos. (É bom que se perceba que não estou a falar da grande corrupção que por aí anda, embora veja que quem mais clama contra ela, são os mesmo que, subservientes e de sorriso largo, veneravam os tais corruptos. Mas isso são outras histórias.) E que fique claro que não sou a favor, nem defendo qualquer tipo de corrupção. Acho contudo, que matérias como esta, devem ter um certo grau de latitude, caso contrário, queiramos ou não, no limite, somos todos corruptos.

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