Turma Formadores Certform 66

Friday, May 22, 2020

Carta ao nosso amigo Nicolau no 1º aniversário da sua morte

Querido Nicolau,

Um ano já passou sobre o dia que nos deixaste. Desde esse dia, a nossa vida nunca mais foi a mesma. As saudades que temos de ti são imensas. As memórias espalham-se pela casa. Os locais que eram teus de eleição, estão preservados. Um amor assim, sincero e firme, não se apaga tão facilmente.

Todos os dias que o calendário contempla foram dias de peregrinação à tua sepultura. Todos os meses, no dia do teu falecimento, foste homenageado. Mês após mês. Nesses momentos vieram as tuas recordações desde aquele dia tempestuoso de véspera de Natal em que entraste nas nossas vidas. Tinhas sido abandonado por gente sem escrúpulos e sem coração. Mas houve alguém que não ficou indiferente e te transformou a vida.

Das tuas irreverências para connosco, do teu proverbial mau feitio, (fruto mais do mimo que tiveste do que por índole própria), tudo isso recordamos. Lembramos a maneira, por vez mais agressiva com que tratavas a tua mãe adotiva, - a Tuxa, lembras-te? - quando começaste a perceber que eras mais novo e mais forte do que ela e querias mandar, querias ser tu o líder.

Mas também lembramos o amor que tinhas dentro de ti e a maneira como o distribuías por todos. E nós cá estávamos para te acarinhar e ajudar na estrada da vida. (E como a tiveste longa e aplanada quase até ao fim dos teus dias!)

Mas também quero aqui lembrar aquele momento derradeiro e triste, aquele em que deixaste rolar as lágrimas pelo teu rosto, e assim nos fizeste ainda sofrer mais, se isso ainda seria possível. Tinhas pena de deixar o mundo, o receio da morte e do que ela encerrava talvez te estivesse a assustar, a pena de nos deixares certamente seria outra razão para isso. 

Tudo fizemos para minorar o teu sofrimento e facilitar a tua passagem. Estivemos sempre presentes junto de ti até ao derradeiro sopro de vida. Sentiste o calor humano - daqueles humanos que não abandonam nem se divertem com o sofrimento dos da tua espécie e não só - para mostrar que mesmo nesta raça humana pode haver pessoas com coração grande. (Sei que não fica bem o auto elogio, mas sabes bem que foi assim durante toda a tua vida). 

Mas após este ano inteiro de homenagens é tempo de te deixar partir definitivamente. Não que te queiramos esquecer, - isso seria impossível -, mas queremos libertar-te para que possas correr e brincar com os da tua espécie nesse país do arco íris que teimamos em acreditar que existe. Com todos, mas sobretudo, com aqueles que povoaram a tua existência terrena, e foram muitos.

Continuaremos a ter pensamentos fortes e amigos para ti. E quando nos vires junto da tua sepultura, pensa que, para além da tristeza que vejas em nós ou que tu possas também sentir, pensa que estamos ali apenas e só para homenagear com o nosso amor aquele que tanto amor nos deu durante dezasseis anos e meio, tu mesmo.

O tempo vai esbatendo as memórias, mas nós vamos agarrando-nos a elas porque são elas que nos ligam a ti. Ao fim deste primeiro ano, esperamos que já te tenhas acostumado à tua dimensão cósmica e que, por mais saudades que tenhas de nós, vai pensando que cada dia que passa nos vai aproximando mais e mais do nosso reencontro num outro plano astral. Queremos crer que assim seja e isso nos dá alento para percorrermos o que resta da nossa vida. Porque ela terá um fim inexorável, mais cedo ou mais tarde. É assim o preço da existência para quem aparece nesta dimensão a calcorrear os caminhos da vida.

Agora sim, chegou a hora de te libertarmos definitivamente. Vai correr pelos prados verdejantes e lembra-te de tudo de bom que a tua vida teve. Tudo aquilo que te demos foi apenas o retorno de tudo aquilo que nos deste. Um dia, algures no infinito, haveremos de nos encontrar porque um amor assim não se renega nem enjeita. 

Está em paz! Descansa em paz, Nicolau!

Destes que tanto te amam,

Os teus papás.

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