Grandes homens, grandes atrocidades
Parece algo inverosímil mas não é. A História está pejada de grandes homens que foram motores dos seus países em determinada altura, mas a eles, na maioria dos casos, se lhes atribuem grandes atrocidades. Vejam o caso da Venezuela ou, mais recentemente da Bielorrússia; vejam o que se passa na Hungria ou nas Filipinas. Todos conhecemos as atrocidades da União Soviética de Estaline ou os assassinatos ainda impunes no Chile de Pinochet. É que estas atrocidades não têm sinal político, onde de um lado estão os bons e do outro os maus, elas são transversais aos regimes e às ideologias. O que fica de aqui é que o ser humano tem uma sede desmedida de poder e ambição, e para satisfazer esses desejos, não enjeita o ir contra a sua espécie. Ontem falei-vos de algo anacrónico para ser discutido no século XXI como é o da problemática do racismo. E hoje falo do mesmo, embora utilize outras palavras e exemplos. Se era inadmissível aquilo que se passava nos tempos de antanho hoje, por maioria de razão, o é ainda mais. Porque o simples facto de estar a discutir esta questão nesta altura só significa que a humanidade está ao nível do chão que pisa. Durante milhões de anos fomos desperdiçando as oportunidades que a vida nos deu e não fomos capazes de evoluir. Numa altura em que as pessoas têm uma formação intelectual bem maior do que os seus ancestrais, não deixa de ser curioso e triste que continuemos no grau zero da civilização. Porque estes fenómenos não têm uma ideologia definida não podendo ser acoplado à esquerda como à direita, no fundo não há inocentes. O caso mais paradigmático passou-se entre nós, quando o Marquês de Pombal quis ser uma espécie de rei absoluto. Ele que teve um papel fundamental na reconstrução de Lisboa depois do terramoto de 1755 mas com a sua ambição tornou-se um dos maiores tiranos da nossa História. Ele que até era maçon, que podemos considerar uma certa esquerda face ao absolutismo que nessa altura imperava na Europa, não se coibiu de aniquilar famílias inteiras e manietar o rei para melhor assumir a liderança do país e da sua ambição pessoal. Mas nem precisaríamos de ir tão longe, porque infelizmente a História de Portugal e não só, está cheia de casos similares. Como podemos pedir a esta espécie que pisa este planeta que ame os animais e respeite a natureza se não é capaz de amar e respeitar o seu semelhante? Parece que afinal o mito das cavernas tão caro a Platão está mais atual do que nunca. Continuamos a não querer ver o mundo que nos cerca em toda a sua dimensão e beleza trocando-o pelas sombras que se projetam no fundo da caverna e que confundimos com a realidade. Assim, e como já aqui disse variegadas vezes a propósito doutras questões, quando seremos capazes de sair das tais cavernas e enfrentar a realidade? Quando seremos capazes de trocar a ambição pessoal desmedida pela solidariedade ao próximo? Quando seremos capazes de cumprir a nossa demanda pessoal em vez de almejar fantasias? Muito ainda temos para percorrer nestes caminhos que a História vai traçando e dos quais nos vamos afastando buscando atalhos que em nada nos enobrecem.
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